sábado, 3 de setembro de 2011

*Sétimo andar




Há algo de estranho...
Sim, há algo de estranho!
Virar a cabeça e não conseguir ver nada,
Aguçar o ouvido e não ouvir patavina.

Os sentidos embriagados por barbitúricos e álcool,
Álcool e mais barbitúricos,
Há algo de estranho quando tenta se aliviar com cortes.
Navalha afiada, pele desfiada.

Há alivio na dor do profundo?
Os sentidos desaparecem,
A brasa do cigarro já queimou a face.
Relance de uma cicatriz marca ao mundo.

Há algo de estranho...
Não, não há ou há?
Álcool, mais álcool, mais cortes,
Mais cicatrizes futuras.

Defunto ainda vivo com urubus ao ar,
A foto do porta-retrato rasgada,
A janela escancarada do sétimo andar,
Ninguém para telefonar.

Sim, algo perece junto aos sentidos!
Não se ouve, vê, sente, degusta ou cheira,
Só a cor do sangue pisado, coagulado
Dos cortes e das queimaduras.

Ninguém para o ouvir, tudo quieto.
Os gatos com comida para meses,
E as reses vão para o abate, sem sentir.
Há algo de estranho que se joga do sétimo andar!




*poema em versos brancos em "AO CAOS" de "Da métrica ao caos", próximo lançamento pela Editora Novitas 

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