quarta-feira, 29 de julho de 2009

A carta


Vômito indômito
Jorra de sua arca
Bosta diarréica
Lambuza frêmito.

Invejoso belicoso
Bactéria virulenta
Imbecil jocoso
Carne pútrida.

Inimigo revestido de amigo defeca sua estirpe
A carta mal escrita engolfa minha libido
O cheiro de cada letra afronta meu calibre.

Desejo de devolver, por minha educação, contido
Vontade de esmurrar sua cara pobre,
Ao silêncio combalido, chegará o dia do grito!

Cristiano Melo, 29 de Julho de 2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sem sentido



Levantem-se hominídeos, ergam suas taças,
Brindem ébrios ao som das batucadas encaixotadas.
Regozijem-se às vitórias mentirosas contadas,
Ergam alto o braço viril contra as ameaças.

A nação está coesa,
A guerra longe está,
Atarraxa o lenço na presa,
De onde não saiu de lá.

Vertam palavras de ordem
Na alegria dos seus irmãos de arma,
Estuprem a moça de ontem, sem carma.

Ocupem as ruas com suas mãos,
A paz dos números lhes convém...
Fugir da História? Isso não!


Cristiano Melo, 28 de Julho de 2009.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Teodora


Afugentava demônios da cabeça, como quem espanta mosquitos de uma ferida. Há algum tempo, desde que Teodora lhe deixara, ficava às voltas com pensamentos e lágrimas. O apartamento agora um tanto bagunçado, mas mais vazio, lhe trazia a realidade da falta. Falta de Teodora, ou do que ela representava dentro dele, “será que amamos uma pessoa em particular, ou é algo interno que imputa o sentimento a quem quer que ocupe tal local?” divagava pelado andando pelo apartamento em ruínas. “Local... Ruínas... Amor... Te-teodora...” Fincavam os pensamentos como estacas no seu cérebro, mais círculos a mais, rodopios dos demônios-mosquitos em cima da ferida, e refletia um pouco mais: “pensava que a ferida de uma separação seria no coração e não na cabeça, mas estes mosquitos, piolhos, vermes, estão presos é na minha cabeça, será que o coração é a cabeça?”. Zonzo, não pelas espirais de pensares, mas da cachaça mineira que tomava gelada, e que já estava na segunda garrafa, em meio a um remedinho aqui, outro ali, zanzava como os seus pensamentos piolhos, “devo ser um inseto, Teodora me deixou porque sou um inseto!” afirmava isto com o dedo em riste para cima enquanto sentava no sofá verde-água “detesto esta cor de merda, cor fresca, nem a cor de meus móveis pude escolher, era tudo Téo, Téo, Téo... Teooooooooô, volta pra mim, volta, prometo que gosto de verde”, gritava baixinho para não incomodar os vizinhos “Téo!” e nenhuma resposta, nem uma companhia, além dos seres na sua cabeça. “Anjos ou demônios? Mosquitos ou piolhos? Saiam daqui, me deixem parar de pensar, porra, me deixem e quem sabe a Téo volte, vocês é que a assustaram, suas vozes que ficam aqui dentro.”, e se encaminhava para a porta numa tentativa de fugir de si. Quase chegava nela, na porta, depois de tropeçar no resto de móveis do apartamento arruinado, quando ouvira alguém bater à porta: “Téo”? Perguntaram do corredor do outro lado da porta. “Teodora?” repetiram. Téo respondeu com uma voz afeminada: “espera um pouco!”. Voltou pelo mesmo lugar bagunçado, agora tinha mais mobília e já adorava o sofá verde, foi ao quarto, pôs uma peruca negra corte Chanel, um robe de seda com estampa asiática, um par de chinelos em formato de coelho e foi ter à porta. “Quem é?”, perguntou. “Sou eu”, uma voz grave respondeu. “Volte mais tarde, estou ocupada...”, tentando se equilibrar apoiado na parede. “Mas eu te amo!!!”, a voz assumia algo de doçura. “Você sabe matar piolho?”, perguntou Teodora.


Cristiano Melo, Julho de 2009.

domingo, 26 de julho de 2009

Garota da W3

Beatriz M. M.


Poema inspirado em Brasília e na musa B. M. M.

A garota na W3 Sul rebolava,
Com seu terninho preto básico,
Scarpin vermelho contrastava,
Em meio ao passeio público.

De súbito, não acreditei, afobado
Com olhos castanhos, ela me olhava
No seu rebolado mais afetado,
Aliviava a seca que a pele rachava.

Na altura da 9, estávamos quase juntos,
Os olhares parados como de defuntos,
Eu de jeans, tênis e camiseta,
Ela executiva, eu um pessimista.

Quando, debaixo da marquise,
Os carros soltando fumaça,
Árvores no meio da avenida,
Paramos e ela abriu a boca:

-O senhor está com cocô de pombo na cabeça!

Cristiano Melo, 26 de Julho de 2009.

sábado, 25 de julho de 2009

Os Dois

Inspirado em conto de Caio Fernando Abreu

Falam dali e d’acolá,
Eles deviam se encontrar.
Será?

De uma mesma amiga,
Um saía enquanto o outro chegava
E nunca se encontravam.

Um cuidava do jardim da amiga,
O outro conversava sobre política,
E o desencontro durava década.

Até que um dia, a amiga aniversariou,
E aos dois convidou,
Foi juntar água e água.

Mesmo que dissessem que os dois tinham a ver,
Muitos debocharam do fato
Outros acharam um barato.

Aqueles dois, como uma vez escreveu o Caio,
No seu “morangos mofados”,
Não foram demitidos do trabalho.

E, com o apoio da amiga e de outros,
Tornaram-se amigos amantes
E hoje, são namorados.

Mais uma estória de amor (?)

Cristiano Melo, 25 de Julho de 2009.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Amizade


dedicado a Beatriz M. M.


Há anjos, disfarçados de humanos
Que entram em nossa vida sem alarde
Mas logo se faz amizade
Durante as seqüelas dos anos.

Há demônios, disfarçados de anjos
Que entram em nossa vida com alarde
Insinuam uma amizade de arcanjos
Até apunhalar sua amizade.

Diferenciá-los é complicado,
Como o é aceitar o metal enferrujado
Enterrado até a sua alma,
Enquanto seu real amigo pede calma.

A sorte é aleatória, pode-se contar a estória
Em particular de uma grande amiga
Que me fez acreditar que vale a trajetória
Em tempos imemoriais de tão antiga.

Suas asas de anjo afagam minhas feridas
Sua palavra contundente, doce e amarga
Conduzem-me a um mundo de fadas
Humanas coloridas de uma doce amiga.

Serei seu amigo enquanto me for permitido,
Limitado pelo tempo, ou outra estória...
Mas, com você, sinto-me protegido,
De toda aquela conhecida escória.

Cristiano Melo, 23 de Julho de 2009.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Il y a quelque chose?

Nascer, ter o cordão umbilical cortado,
Sentir a gengiva romper ao dente pontiagudo,
Engatinhar e fazer as concavidades da coluna
Cair e levantar, ereto com hematoma.

Compreender os sinais e seus significados,
Do adulto que ri, do que enfurece, do que bate,
Coletivizar com outros estranhos, produção em série
Aprendizado escolar, confusos alfabetizados.

Os dentes começam a cair e outro mais pontiagudo
Toma o seu lugar, ninguém para explicar
Mas sempre um adulto para lhe humilhar.
Tire seu dente sozinho, é o ensinado.

A adolescência é das mais complicadas,
Não se tem referências, nem paciência
Cabeça na parede, batida pra compreender
O que fazem os adultos além de beber?

Cobranças de seu desempenho escolar,
Não adianta pensar em algo além do vestibular
Que seja algo com status, batem os adultos
Cobertos de razão mesquinha, não solidários.

Dizem que o amor permeia até aí o laço familiar,
Agora, são seus afetos pessoais, suas conquistas,
Profissionais e amorosas, casar e filhos ter,
Refletir criticamente não é encorajado.

Adulto se torna? Com medos e ansiedades
Sem saber de onde vem, nem o que fazer
Além de ficar quieto na rede, com o sorriso estampado:
Sorria, a vida é bela! Dizem...

A mulher, da mesma escola, lhe trai,
O trabalho, não escolhido, lhe adoece,
A vida que dizem, não é a sua.
É o caso de se perguntar: quem sou eu?

E a vitrine de alguém bem sucedido,
Finalmente se parte, doenças surgem
Dinheiro nenhum cura a ferida
E a sua única amiga: a morte.

Esta é a sina do homem mediano,
De classe média, que classe?
Tomar comprimidos para viver,
Ou, finalmente descansar...

Cristiano Melo, Julho de 2009

Finais

Reconhecer a fria noite que chega
Aos olhos da alma andarilha,
Gasta a pele da espinha em calafrios...

O punhal enferrujado
Que em seu peito é enterrado,
Causa-lhe o pavor da intimidade.

Abre o peito, a vida e os anseios
Traz junto ao amor a armadilha
Fartura de recalques de entrega.

O que se era amizade,
Torna-se furtivo o algoz
Daquilo que lhe é mais caro.

Sucumbe embasbacado
Ao golpe nas costas
E a injusta realidade.

Finais são tristes
Recomeços impossíveis
Uma amizade se vai.

Esperança que esvai.

Cristiano Melo, Julho de 2009.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A Teia

No emaranhado da rede aracnídea
A aranha tece seu fio indiferente
Pontos de ligação a mantém firme
Prende e solta no convívio social.

Somos insetos presos nessa trama
Alguns poderiam chamar de destino
Outros argumentos religiosos,
Ou ainda a ordem caótica.

Conectados e desconectados,
Incluídos e excluídos,
Não há diferença à aranha
Muito menos à teia que lhe situa.

Possibilidade de liberdade,
Se o inseto é esperto
E se esforça para se libertar,
Ou à rede se entregar.

Não adianta dialogar com a aranha
Nem morder o fio,
Só refletir e se libertar
Se possível for ao inseto.

Qual o preço, o valor?
O inseto que sabe
Sem saber...

Sabe?
Seja.
É.

Cristiano Melo, 21 de Julho de 2009.

domingo, 19 de julho de 2009

Album de família


Continuidade e aprendizado.
Começamos no berço familiar,
Continuamos o que foi começado
Muito antes de a memória guardar.

Somos a mesma essência,
Humanos em formação,
Nascimento e morte
Da árvore genealógica.

De cada ramo da tal árvore
Brotam outros ramos
Outros caminhos
E, nas diferenças, pontos de ligação.

Raízes de um povo
Frutos de um cotidiano solitário
Não em solidão,
Da casca que se transforma.

Ser é solidão,
Ter é apego,
Viver é solitário,
Morrer é fato.

No entanto, as pegadas não são apagadas,
Rastros de uma árvore
Broto, galho, tronco
Seja qual o seu caminho, ser é familiar de fato.

Cristiano Melo, 20 de Julho de 2009.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O caminhar

Compreender que tudo é transitório,
A impermanência impera indiferente.

Tudo que se junta, se separa,
Tudo que se constrói, um dia se destrói,
Tudo que se existe, um dia deixará de existir.

Apegar-se a algo como eterno,
Traz sofrimento.

Meu trabalho, meu amigo,
Meu amor, minha casa,
Minha vida, minha escrita...

A ilusão do pensamento,
Em círculos imateriais
Só lhe confunde.

Deixaria de existir se não pensasse?
É possível parar o pensamento?

O caminho é de cada um,
Ninguém pode fazê-lo em seu lugar.

Melhor talvez, caminhar consciente
Desatar os nós sociais
Ater-se ao ser só em si.

Cristiano Melo, 16 de Julho de 2009.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Viturina



Dedicado a Viturina Ozita da Conceição Silva
05/02/1942 a 14/07/2009


Ainda criança, criada por outra família
Da qual se tornou a sua.

Irmã mais velha de onze,
Filha mais velha de Inácia
Fartura, sinônimo dela.

As doenças da idade começavam açoitar,
O corpo e um pouco da mente
Mas ela ainda estava lá,
Com guloseimas para a família inteira.

Ao fogão suas estórias encantavam,
Os filhos de seus irmãos,
A mágica, o encantado e a alegria,
Fantasias para as suas crianças amadas.

Gostava de morar só,
Na sua própria casa,
Querida por seus vizinhos,
Encantava quando passava.

Entre Teresina e Fortaleza,
Construiu sua rede,
E adorava uma rede.

De seu grande corpo,
Um abraço sempre confortava lágrimas
De adotada, passou a adotar.

As dezenas de sobrinhos,
Paparicava como ninguém,
Hábil em alegrar com suas estórias.

Minha tia, amiga, sorridente,
Fica aqui a despedida
Para uma nova aventura.

Seu nome, Viturina.

Cristiano Melo, 15 de Julho de 2009.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Fortaleza bela?











Hoje darei um tempo da poesia e da prosa para dividir com vocês leitores, o "susto" que tive ao chegar em Fortaleza de férias, logo no primeiro dia. Apesar das fotos falarem por si, escrevi o seguinte texto:








Fortaleza Bela, “slogan” da atual prefeitura de Fortaleza no Ceará, tem trazido algumas melhorias para a cidade, realmente. Para os turistas com certeza, mas estas fotos feitas no cruzamento das ruas Henrique Autran e João Tomé, no bairro do Monte Castelo, na chamada Regional 1, que segundo o site da prefeitura: “A Secretaria Executiva Regional I (SER I) abrange 15 bairros: Vila Velha, Jardim Guanabara, Jardim Iracema, Barra do Ceará, Floresta, Álvaro Weyne, Cristo Redentor, Ellery, São Gerardo, Monte Castelo, Carlito Pamplona, Pirambu, Farias Brito, Jacarecanga e Moura Brasil. Nesta região, moram cerca de 360 mil habitantes. Localizada no extremo Oeste da cidade, foi nesta área que nasceu a nossa Capital. Atender bem à comunidade e minimizar os problemas desta parte da cidade são os objetivos das ações da SER I.” (http://www.fortaleza.ce.gov.br/, informação do dia 13 de Julho de 2009, 08h00minh).

Em matéria anterior publicada no site colaborativo Overmundo, veja o link: http://www.overmundo.com.br/banco/cultura-do-lixo , datado de Janeiro de 2009, onde questionava os hábitos dos moradores locais, onde se poderia figurar uma espécie de “cultura do lixo”. À época, moradores apontavam o problema, com a visível possibilidade de disseminação de doenças na região pelo acúmulo de lixo. Este cidadão retornou ao mesmo local, seis meses depois, agora em Julho de 2009 e ao entrevistar os mesmos moradores, como o Sr. Inácio Dutra, foi denunciado que a regional colocou um fiscal, e que este fica até o meio-dia. Um caminhão da prefeitura foi mobilizado para retirada do lixo do local, mas não resolveu o problema, uma vez que alguns carroceiros que despejam lixo no local até ameaçam retaliar quem os denunciar.
O Sr. Zulmar, funcionário da EMLURB, que é o atual fiscal da prefeitura, me afirmou que o caminhão vem dia sim dia não, ou ainda, não tem dia certo para passar, no momento da entrevista ligava para o responsável para remover o lixo, sem êxito. O Sr. Antônio, morador do beco logo ao final da Rua Henrique Autran, afirma que não adianta nada, que o caminhão passa e logo jogam o lixo de novo, que jogam até animal morto e que o filho de outro morador, Marcelo, já contraiu a “doença do rato”.
Zulmar ainda aponta que, se o centro de Treinamento Manuel Dias Branco, onde o lixo é despejado, e onde funciona creche, grupos de apoio como NA, AA, etc..., tivesse uma administração mais eficiente poderia ajudar a resolver o problema.
Diante das entrevistas e das fotos, este cidadão que escreve o presente texto faz algumas considerações:
O poder público não pode se isentar de sua responsabilidade perante seus cidadãos, deve buscar políticas públicas que solucionem a situação, e não um “tapa-buracos” para dizer que se faz algo; a população tem sua responsabilidade na sua comunidade daí alguns moradores se mobilizarem para ajudar a administração pública a ver a situação; situações de risco de saúde como esta estão claras e não condizem com o “slogan” da cidade, chega a ser irônico; que o poder público deva ser mobilizado em todas as regionais independente de seu poder financeiro e não concentrar suas ações em áreas turísticas.

domingo, 12 de julho de 2009

A senha


-Pois não, com quem estou falando?

-Comigo!

-Sim, senhora, qual é o seu nome?

-Importa?

-Claro, esta ligação é gravada para a “sua” segurança, qual é o seu nome?

-Arminda.

-OK, e o seu CPF?

-Mas se está sendo gravada como vou deixar meu CPF gravado?

-Pra eu entrar no sistema e ver seus dados.

-Tá, então pega aí, é...

-OK, vejo que a senhora é cliente antiga, no que posso ajudar?

-Antiga? Tá me chamando de velha?

-Não, senhora Arminda, só que tem uma relação com nossa empresa já tem alguns anos.

-OK, OK...

-Mas, então, o que a senhora deseja?

-Na verdade eu desejava o Tonho, mas não vem ao caso.

-...

-É que esqueci a senha, e não consigo entrar na internet.

-Certo, senhora, confirme alguns dados por gentileza.

-Mas não já dei o número de meu CPF?

-Sim, mas a confirmação é para a “sua” segurança.

-Tá, manda.

-Qual seu endereço?

-Alameda tal, número 123, apto 456.

-Nome da sua mãe.

-Maria.

-OK, obrigado pela confirmação.

-Qual sua senha?

-Mas é justamente o que eu quero, temos senha pra tudo e não consigo guardar todas, quer fazer o favor de me dar minha senha, preciso entrar na internet por causa de meu trabalho e...

-Tudo bem senhora, para “sua” segurança estarei gerando um número de protocolo após o atendimento em que estarei lhe passando sua senha.

-Por que tanto gerúndio?

-Gerúndio? Você não quer a sua senha?

-Sim, esquece, por favor, me dá minha senha, não tenho a mínima ideia de qual seja, são tantas...

-Aguarde um momento enquanto busco no sistema.

-Ai que música chata...

APÓS ALGUNS MINUTOS

-Senhora?! Obrigado por aguardar, sua senha é...

-Sim, sim?!

-123456


Cristiano Melo, 12 de Julho de 2009.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Poesia celeste

O céu, sempre o céu
A inspirar beleza em dias melancólicos
Frestas da corrente diabólica.

A Lua, indiferente
Adorna este céu,
Com suas súditas estrelas.

Pobre diabo, o poeta
Que fica a ver poesia,
Em astros celestes.

Enquanto escarnecem sua pele
Sua verve incompreendida
Folha que tenta não cair do galho.

Após a queda,
A Lua e as estrelas descem
E transformam o poeta inerte.

Fugazes lampejos de irreal poesia
Metáforas atávicas impregnadas
De sua mais nobre essência.

Cristiano Melo, 09 de Julho de 2009.

Angústia


Aloprado na indulgência fominha
Farto na ira de ser gente
Umbigo que devora a todos.

Respeitar o outro é quimera zaróia
Não enxerga bem nem sua gola
Tropeça e tropeça e tropeça...

O caminho curvo leva a círculos
Preso no labirinto de si
Não chega a nenhum fim.

Morre cego, nasce sem olho
Humanidade besta sem graça
Joguem logo uma bomba e me esqueça.

Vou ser bicho na próxima...

Cristiano Melo, 09 de Julho de 2009.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Ansiedade

Queria lhe por no colo,
Afagar seus cabelos louros
E fazer sumir seus receios.

Queria lhe contar cantigas
Melodias antigas
Ninar seu peito soluçoso.

Queria ser o que queria
Mas não posso
Não posso
Posso?

Impermanência, apego e medo da morte
Mistura da bomba atômica
Que explode em nossos anseios.

Ansiedade não leva a lugar algum
Além de sofrimento
E bum!

Há esperança?

Cristiano Melo, 09 de Julho de 2009.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Gaiola


Do mito da caverna,
Espelho-me agora
Fora da quarentena.

O que me espera lá fora?
A noite serena,
O dia que estopora?

O medo do desconhecido
Entre travesseiros encolhido.

A porta da gaiola foi aberta
A caixa de pandora rebenta.

Dá um colírio, uma máscara
Prenda o fôlego e encara.

A sorte mazelada
Da boca amarelada.

Fico!

Cristiano Melo, 08 de Julho de 2009.

Babilônia


Babilônia de ideias
A língua manifesta
O dedo aponta
Chega de odisséias.

O diferente não tem vez
No coração do igual
Batalhas empreendidas com solidez
Conflitos do humano mortal.

Não aceitar o sexo
Confrontar a cor da pele
Cuspir no idoso, perplexo.

Doutrinas que exortam a peble
Ideologias sem nexo
Destrói o ser e o engole!

Cristiano Melo, 08 de Julho de 2009.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Espelho


Quem me olha do espelho?
Quem e o que é refletido?

Percebo a face, o contexto corporal
Quem é este estranho?

Sou eu?
Não me reconheço
Tantos vincos e olheiras
Envelheci e nem percebi.

E o que aprendi,
Onde está?
Diga-me ó estranho do espelho
Onde está minha essência?

Imagem inerte
Que começa a sorrir
E, em minutos, gargalhar

Que medo medonho
De mim
A rir de...
Quem mesmo?

Vozes surgem e desaparecem
E o plano reto do espelho
Mantêm-se intacto
A despeito do prato
Jogado
Em
Mim.

Cristiano Melo, 2008.

sábado, 4 de julho de 2009

Ingenuidade

Ingênuo, responde ao adulto
Com a criança imatura
Chora por algo além...

Fatos que transportam,
Do hoje a uma era.

Esfrega!

Faz chover na sua palma,
Ora a sorte fétida.

Lacra calabouços escancarados,
Qualifica.

Com a linguagem,
Língua!

Verbaliza o guardado,
Com maturidade,
Sem distração.

O que se foi, não é
O que é, se irá.

Não confunda
O poço raso que se afogam
Seus pares insanos...

Independencia já!

Cristiano Melo, 04 de Julho de 2009.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Estado Civil

-Estado civil?

-Civil!

-Como?

-Sou civil e não militar.

-Não, não. Estado civil é se o senhor é casado, solteiro...

-Ah, então por que não perguntou logo?

-Mas eu perguntei!

-Não, a senhora perguntou se eu era civil ou militar.

-Tá, tá. E então? O senhor é casado ou solteiro?

-Junto.

-Junto?

-É, junto!

-Então o senhor é solteiro.

-Não dona, não sou solteiro, sou junto.

-...

-Qual é a próxima pergunta?

-Primeiro o senhor tem de me ajudar a preencher seu estado civil...

-Não já disse que sou civil?

-...

-Que difícil, pensei que vir aqui tirar minha identidade fosse fácil.

-E é meu senhor... Deixa eu pensar... O senhor é junto, então vou marcar solteiro, certo?

-Não, como é que vou me explicar pra minha mulher que sou solteiro?

-O senhor não precisa dizer a ela...

-Quer que eu minta agora? Já está passando o limite, dona.

-Senhor, me ajuda tá bom, a fila tá grande e...

-E o que? Esperei como todo mundo, aliás, nem queria tirar este documento, foram vocês que
pediram lá em casa.

-Certo, então vamos lá, o senhor é junto e não tenho essa opção pra marcar aqui, posso escolher pelo senhor?

-A dona tá insinuando que vai escolher outra mulher pra mim?

-Não, vou escolher seu estado civil.

-Vai me mandar ou não pras forças armadas?

-Chega! Cansei, o senhor é muito difícil, assim não consigo trabalhar, e...

-Calma dona, desculpa, tá? Não chora, marca seu X aí onde quiser, escolhe minha vida, me manda pro exército, me traz outra mulher, mas não chora...

-Também não é assim, né?! Mas tudo bem, obrigada pela consideração, passemos então a próxima pergunta.

-Tá ótimo dona, pode perguntar.

-Sexo?



Cristiano Melo, 03 de Julho de 2009.
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