Afugentava demônios da cabeça, como quem espanta mosquitos de uma ferida. Há algum tempo, desde que Teodora lhe deixara, ficava às voltas com pensamentos e lágrimas. O apartamento agora um tanto bagunçado, mas mais vazio, lhe trazia a realidade da falta. Falta de Teodora, ou do que ela representava dentro dele, “será que amamos uma pessoa em particular, ou é algo interno que imputa o sentimento a quem quer que ocupe tal local?” divagava pelado andando pelo apartamento em ruínas. “Local... Ruínas... Amor... Te-teodora...” Fincavam os pensamentos como estacas no seu cérebro, mais círculos a mais, rodopios dos demônios-mosquitos em cima da ferida, e refletia um pouco mais: “pensava que a ferida de uma separação seria no coração e não na cabeça, mas estes mosquitos, piolhos, vermes, estão presos é na minha cabeça, será que o coração é a cabeça?”. Zonzo, não pelas espirais de pensares, mas da cachaça mineira que tomava gelada, e que já estava na segunda garrafa, em meio a um remedinho aqui, outro ali, zanzava como os seus pensamentos piolhos, “devo ser um inseto, Teodora me deixou porque sou um inseto!” afirmava isto com o dedo em riste para cima enquanto sentava no sofá verde-água “detesto esta cor de merda, cor fresca, nem a cor de meus móveis pude escolher, era tudo Téo, Téo, Téo... Teooooooooô, volta pra mim, volta, prometo que gosto de verde”, gritava baixinho para não incomodar os vizinhos “Téo!” e nenhuma resposta, nem uma companhia, além dos seres na sua cabeça. “Anjos ou demônios? Mosquitos ou piolhos? Saiam daqui, me deixem parar de pensar, porra, me deixem e quem sabe a Téo volte, vocês é que a assustaram, suas vozes que ficam aqui dentro.”, e se encaminhava para a porta numa tentativa de fugir de si. Quase chegava nela, na porta, depois de tropeçar no resto de móveis do apartamento arruinado, quando ouvira alguém bater à porta: “Téo”? Perguntaram do corredor do outro lado da porta. “Teodora?” repetiram. Téo respondeu com uma voz afeminada: “espera um pouco!”. Voltou pelo mesmo lugar bagunçado, agora tinha mais mobília e já adorava o sofá verde, foi ao quarto, pôs uma peruca negra corte Chanel, um robe de seda com estampa asiática, um par de chinelos em formato de coelho e foi ter à porta. “Quem é?”, perguntou. “Sou eu”, uma voz grave respondeu. “Volte mais tarde, estou ocupada...”, tentando se equilibrar apoiado na parede. “Mas eu te amo!!!”, a voz assumia algo de doçura. “Você sabe matar piolho?”, perguntou Teodora.
Cristiano Melo, Julho de 2009.
Oi,Cristiano.Gostei muito.Agradável surpresa esse conto,com um suspense crescente,ótimas descrições,e um quê de ambiguidade.O final é magistral.Grata surpresa e leitura nessa manhã.Grande abraço.
ResponderExcluir
ResponderExcluirNome de conto esplêndido
Nome de filha minha, Theodora
qua agora, por hora, ja tem um conto
te conto tambem que ela tem um vídeo e um canto...Encanto ?...veja lá:
Theodora
(coincidências tb existem nas artes, né não ?...rsrs)
abraço, CrisAmigo !
Obrigado J.,
ResponderExcluirapesar de gostar muito de escrever poemas, acho que tenho uma veia para a prosa que tento desenvolver mais. Seu comentário me estimula nesse sentido.
Fico-lhe grato.
abraços
Grande Joe,
ResponderExcluirCoincidências....nas artes são bem interessantes...rs
Já aconteceu de escrever sobre um tema e ler amigos que acabavam de escrever sobre o mesmo tema, é bem interessante mesmo.
Que beleza de homenagem a Theo...
Uma "pena" que o conto seja um tanto maluquinho para ser uma homenagem a ela, prometo pensar em algo para o futuro que seja mais adequado.
abração
amigão