quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Expectativas



Suspeitou desde cedo não viver.
Ganhar números para ser alguém,
Juntar-se a outros para apreender
A humanidade em códigos, amém.

A vida era sentida sem sentido.
Talvez não fosse Vida, mas sim morte.
Viver morto como um nauseabundo
Junto com vivos-mortos, mesma sorte.

Expectativas que não pertenciam
A ninguém além do que é esperado.
Há de viver, ter; não olhar pro lado!

Alguém tem de morrer para manter
A vida que não é Vida existindo...
Só restam horas para se Morrer.



domingo, 17 de novembro de 2013

Não!




Dói mais ter vivido e ser surpreendido
Por doença fatal, que nunca ter conhecido
O que vem a ser alegria e ser alguém ativo.
Não, não há beleza em ter vivido!

E, agora um ser bandido, isolado.
Nossa sociedade não quer doente,
Triste ou moribundo, demente.
Apenas o que se encaixa no quadrado.

Depois de tanto viver, conhecer o mundo;
O desapego se torna tortura ao olhar um conhecido
Com status de amigo que te vê como estorvo,
Ou não vê. Não quer nem pensar em esquecer seu Volvo.

Como fitar a impermanência em uma cadeira de rodas
Quando há pouco nadava em oceano aberto?
Poderia até meditar em suas lembranças amadas
No entanto, os joelhos doem e teu “amigo” desliga o telefone por certo.

Não! Não há beleza alguma em ser eletrocutado
Contido por drogas inúteis
Internado por motivos fúteis
Fazer quimioterapia até seu óbito.

Se estes versos saúdam a revolta
É o pouco de conforto que se encontra
Nas letras e palavras, não nas pessoas,
Cada vez mais ausentes nas garoas.

Não! Não há uma inteira vida em terapia
Décadas de meditação por um mundo melhor
Compreensão de que o outro só dá o que tem na veia
Que possa alterar a revolta e o estupor, muito menos a dor!

De ter vivido, muito bem. Muito. E de repente
Cabum! Doenças que te remetem a sarjeta
De onde talvez, isso poderia ser um consolo renitente,
Nunca estivera em outra saleta.


Não!



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Crisálidas não
Protegem das intempéries ________
Borboletas morrem





sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Beco sem saída



Acordara ali sem saber onde estava. Lembrava que havia tomado comprimidos. Muitos. Cortado veias e artérias nos braços e pescoço. Já estava apagando quando ainda tentava encontrar uma artéria, mas o máximo que conseguiu foi achar uma arteríola, não suficiente para ajudar no seu intento. O que poderia levá-lo a morrer era a falência renal causada pela overdose de comprimidos para quimioterapia e outras drogas. Pelo que percebera acordara no inferno. O primeiro pensamento mais claro foi “merda, quem se suicida vai mesmo pro inferno. E ele, o inferno, existe. Porra!”. Numa espécie de cama com colchão de um milímetro de espessura quando muito e um calor de matar, dormiu. Foi acordado por alguém de jaleco branco para entrar numa fila com outros moribundos e tomar uns comprimidos estranhos de formatos, tamanho e cores variados. Muitos. Como chegou até a fila e conseguiu ficar em pé é um dos mistérios que não seriam desvendados ali, palco de muitas coisas estranhas. Afinal para que tomar comprimidos no inferno? Escutava gritos, gemidos, grunhidos, latidos e o suor escorrendo exalando mau cheiro. Quanto tempo estava ali? Horas, dias, semanas? Noção de tempo era privilégio que não ousaria. Afinal estava pagando o que fizera. Quando conseguiu erguer os olhos por conta de um berreiro de alguém, conseguira ver seus braços ainda cheios de sangue. Isto lhe deu certo alívio, pois o tempo afinal lhe era mostrado. E, com certa acurácia no sentir, fora aos poucos percebendo que ainda estava vivo, mas ainda assim numa espécie de inferno. No exato momento que descobriu ou ainda desconfiou estar vivo, alguém mijou em seus pés, para logo em seguida outro fazer o mesmo na cabeça. Não conseguia se mexer. Apagou de novo. A mistura do suor e mijo já não importavam mais, era o cheiro do lugar. Sem ideia de quanto tempo ficara ali sendo que as únicas coisas a lhe levantar eram, a maldita hora de tomar aquelas drogas e para descer e comer. Descer. Era ou não era um inferno? Talvez um purgatório onde não se conseguia comer nada, sem fome, sem vontade de fumar. Sem vontade. Mais mijos se seguiram junto com merda desta vez. Ainda não conseguia reagir e acreditava merecer aquilo. Já não sabia se tinha febre ou o calor que lhe era o termômetro dando a temperatura. Pensamento algum conseguia se fixar, apenas o básico e olhar para o que acontecia. Brigas pela comida que deixava no prato. Perseguição por ser forte para eles que eram muito magros, baixos e sem dentes. Para eles talvez representasse uma ameaça. Por isso mesmo sofria agressões e ameaças. Mijadas e cagadas dia e noite. O homem do jaleco branco apenas ria, não saberia dizer se pelo fato em si ou por não conseguir falar palavra alguma, completamente mudo. Tivera mais uma prova de que provavelmente ainda estava vivo quando recebeu uma carta de sua mãe com algumas frutas, imediatamente devoradas por aqueles seres sem dentes. Poderia se perguntar como eles conseguem mastigar maçãs sem dentes. Mas a carta que importava. Nela lera uma angustiante dúvida sobre tudo, talvez mais que pudesse ter. Lá também havia algo que queria responder, escrever para ela, mas o homem do jaleco branco perguntou para quê? Além de não conseguir falar, não podia escrever. Só podia ficar deitado sem descer para comer, mesmo obrigado por uma mulher de jaleco branco, e aguardar a próxima mijada ou o cuspe no copo que não lhe pertencia.

Uma vez conseguiu ir ao único banheiro no lugar, utilizado por lá saberia dizer quantos desdentados. Começara a se molhar para tirar o cheiro de mijo. A água era fraca, não conseguia ficar em pé e, quando um desdentado o viu, chamou outro que chamou mais um e logo havia uns dez desdentados no tal banheiro. Fora mordido, derrubado, espancado, surrado. Esperma era o novo mijo. Não via mulheres desdentadas ou não até ali. Apenas a de jaleco branco, talvez a cozinheira. Após este episódio, era o primeiro da fila para tomar as drogas que não lhe deixavam pensar. Passara a ser acordado por brasas de cigarro. Algo como um esporte local, talvez por ser o único com dentes. Merecia aquilo tudo. Algum pensamento veio e estava em dúvida, aquilo era o inferno, era o purgatório ou estava vivo em uma instituição de doentes mentais? Mas logo era hora do homem do jaleco branco, mais drogas. Sem pensamentos. Sem fome. Sem nada, além de esperar a morte. Afinal não era o que queria no começo? Do que reclamar? Que fosse logo. Que cortassem sua garganta a qualquer hora. Que arrancassem sua pele quando fosse ao banheiro. Que dessem uma overdose do comprimido caramelado laranja.


A carta de sua mãe o mantivera por algum tempo são, se é que se poderia afirmar tal coisa. Aprendera que a esperança era algo tão inútil quanto rezar para que algo ou alguém o salvasse. Nada poderia mudar aquilo. Levasse o tempo que fosse. Ficaria ali, comendo o pão que o diabo amassa todo dia para quem merece. E por merecimento, comeria todo dia este pão, fazendo cara de alegria para não ter que comer mais. Os desdentados não o esqueciam nunca. Faziam parte do todo que era aquele inferno. Estivesse ele vivo ou morto. Ali era um inferno. E, fatalmente aconteceu. Não teve retorno. Os dentes começaram a cair e então começara a mijar onde bem entendesse. 




domingo, 10 de novembro de 2013

A aleatoriedade do caos

American Horry Story, 2013, FOX



A aleatoriedade do caos
Enquanto alguns vivem sem surpresas
Outros sofrem tragédias
Nada além do aleatório
Pode ser você
Pode ser eu
Qualquer um que esteja vivo ou vivendo
Tragédia! Caos! Vida!
O que seria tragédia para alguns
Nada mais é do que um sorriso amarelo para outros
O sorriso amarelo para quem sofre de vida
Nada mais é que culpa-cristã, hipocrisia...
A vida e o caos não são o que se costuma chamar destino
É apenas causalidade, sorte
Ninguém nasceu para grandes feitos
Tampouco para sofrer dores extenuantes sem cura
Apenas a aleatoriedade do caos
Com isso dito, sente-se melhor caro leitor?
Não, claro que não!
Então se sente
Viva o que há de ser vivido
O prato já não está servido
Sente-se!



sexta-feira, 8 de novembro de 2013

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Agorafobia
Bicho preso na gaiola ________
Ninguém que se importe




terça-feira, 5 de novembro de 2013

7º BookCrossing Blogueiro





Caro leitor, mais uma vez participo, divulgo e convido do/ao BookCrossing Blogueiro capitaneado pela queridíssima Luma. A ideia é simples, solte um de “seus” livros em qualquer lugar público e escreva que este livro está ali para ser lido e depois deixado para ser encontrado e lido por outra pessoa e... Dar asas ao livro para encontrar leitores. Ler é uma aventura, o livro também pode viver uma. Pratique o desapego e participe do 7º BookCrossing Blogueiro e para deixar ainda mais interessante, fotografe a sua “soltura” e poste na página do Face Book ou no blogue da Luma. Já tenho ideia do que irei libertar desta vez. Lembrando que o período desta edição será de 8 a 16 de Novembro de 2013. 



segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Interlúnio

imagem de American Horror Story, FOX 




Coligia chorrilhos de contrição
Lançados aos ladrilhos macambúzios.
Compungir-se de feitos, ora não!
Quebrantar tinos ditosos, ora vazios!

Amedrontado por fantasmas,
Por humanos, por micro-organismos,
Por células, genes, enzimas...
Regozijava-se em pular abismos.

Ciclo ininterrupto da vida é
A raiz de seus infortúnios.
Interrompida fosse, como em interlúnios,
Poder-se-ia caminhar com o próprio pé.

Parar ou continuar, eis aqui um impasse!
Se vais ou não sustentar suas escolhas
Malditas ou não, seria bom que chorasse
Pela sórdida mão estendida cheia de bolhas.

Pudesse fugir, para onde iria?
Vermes acompanham de perto
A hora de refestelar-se com alegria
Daquela alma perdida por certo.

Pudesse gritar, quem ouviria?
A família pronta para te internar?
Ou o cachorro lambendo a virilha?
Nada que faça irá modificar.

Pudesse morrer, morreria.
Sem o tempo no teu calcanhar
Nem a lembrança da selvageria
Que é tentar o outro aceitar.



Passo!


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Diagnóstico



Algo de estranho começa a acontecer.
As pernas já não te levam para onde queres,
As mãos entortam os dedos quebrados em halteres,
A coluna dói e finda por endurecer.

De súbito, nem sabes como, muito menos quando;
Já estás a receber veneno na veia para melhorar.
Veneno! Este é o tratamento daquilo estranho a lhe dar
Melhora de um lado, piora do outro, um espanto.

Trôpego, tropeçando nas pernas recebe o diagnóstico:
Letras, números e uma doença com nome impronunciável...
E a pergunta na cabeça zonza, de que serve o nomeável?
Alívio ou cura não existem para algo deveras fatídico.

Incurável, grave, autoimune e tens que aprender
A aceitar que terás de tomar veneno o resto da vida.
O que lhe sobra dela, até o anoitecer,
Quando a morte talvez lhe cure a ferida.


Talvez! 



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