Dói mais ter vivido e ser surpreendido
Por doença fatal, que nunca ter conhecido
O que vem a ser alegria e ser alguém ativo.
Não, não há beleza em ter vivido!
E, agora um ser bandido, isolado.
Nossa sociedade não quer doente,
Triste ou moribundo, demente.
Apenas o que se encaixa no quadrado.
Depois de tanto viver, conhecer o mundo;
O desapego se torna tortura ao olhar um conhecido
Com status de amigo que te vê como estorvo,
Ou não vê. Não quer nem pensar em esquecer seu Volvo.
Como fitar a impermanência em uma cadeira de rodas
Quando há pouco nadava em oceano aberto?
Poderia até meditar em suas lembranças amadas
No entanto, os joelhos doem e teu “amigo” desliga o telefone
por certo.
Não! Não há beleza alguma em ser eletrocutado
Contido por drogas inúteis
Internado por motivos fúteis
Fazer quimioterapia até seu óbito.
Se estes versos saúdam a revolta
É o pouco de conforto que se encontra
Nas letras e palavras, não nas pessoas,
Cada vez mais ausentes nas garoas.
Não! Não há uma inteira vida em terapia
Décadas de meditação por um mundo melhor
Compreensão de que o outro só dá o que tem na veia
Que possa alterar a revolta e o estupor, muito menos a dor!
De ter vivido, muito bem. Muito. E de repente
Cabum! Doenças que te remetem a sarjeta
De onde talvez, isso poderia ser um consolo renitente,
Nunca estivera em outra saleta.
Não!