sábado, 21 de novembro de 2009

Sétimo andar

Há algo de estranho,

Sim, há algo de estranho!

Virar a cabeça e não conseguir ver nada

Aguçar o ouvido e não ouvir patavina.


Os sentidos embriagados por barbitúricos e álcool,

Álcool e mais barbitúricos,

Há algo de estranho quando tenta se aliviar com cortes

Navalha afiada, pele desfiada.


Há alivio na dor do profundo?

Os sentidos desaparecem,

A brasa do cigarro já queimou a face

Relance de uma cicatriz, marca ao mundo.


Há algo de estranho,

Não, não há, ou há?

Álcool, mais álcool, mais cortes

Mais cicatrizes futuras.


Defunto ainda vivo com urubus ao ar,

A foto do porta-retrato rasgada,

A janela escancarada do sétimo andar

Ninguém para telefonar.


Sim, algo perece junto aos sentidos,

Não se ouve, vê, sente, degusta ou cheira

Só a cor do sangue pisado, coagulado

Dos cortes e das queimaduras.


Ninguém para lhe ouvir, tudo quieto,

Os gatos com comida para meses

E as reses vão para o abate, sem sentir

Há algo de estranho em que se joga do sétimo andar?



Cristiano Melo, 21 de Novembro de 2009.

4 comentários:

  1. Ha algo de estranho em sofre?
    Ha a incapacidade de coagular a dor
    e apenas conserva-la in vitro,
    seja de alcool ou barbituricos.
    Sete sao os pecados que nos trazem dores.
    Sete dias,
    sete cores,
    sete vezes sete sao os revezes
    que trazem cicatrizes
    feitas por navalhas imaginarias
    cigarros distraidos,
    faces encharcadas
    por dores que nao se calam
    nem se jogadas do setimo andar
    em estranhos e entranhados pedidos.

    Outro dia, eu, do primeiro andar
    pedi ajuda.
    Ninguem me ouviu.
    Nada de alcool, nem barbituricos,
    fumei um cigarro e engoli o silencio,
    as respostas que nao tenho
    eu traduzo em palavras desconexas.

    Se eu tivesse um setimo andar
    estranho seria eu nao pular.

    (Desculpe a folga no seu espaço, adorei a poesia, sem mais a dizer,
    um beijo, e aguardo o lancamento do objeto livro)

    PS, nao tenho como corrigir a ortografia do MAC, sorry(a)

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  2. Que presente de comentário Dora, como sempre vc me compreende e traz sua verve, tão visceral aos comentários de meus trabalhos, fiquei muito contente e ouvi o seu chamado do primeiro andar...o número sete foi de propósito mesmo, mas acho que já sabia....rs
    beijos e obrigado

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  3. Eis o mistério da fé...
    por que não subimos ?
    Newton se espantaria em ver a maçã subindo..

    Não subimos pois somos humanos !
    e não temos peso de pena
    e, por sinal ou sina,
    não há mais pena de ninguem...

    restaria a auto-comiseração ?
    haja alcool...

    as dores serão eternamente nossas

    reticentemente e barbituricamente nossas...

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  4. Hey Joe,
    comentário interessante este: por que não subimos?
    a tal lei da gravidade nos mantem, simples assim, se fôssemos tão racionais, mas com um pouco de "loucura" que temos a nossa emoção nos faz voar, mesmo que em viagens alcoolicas e telúricas...
    muito obrigado
    abraços

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