Fotografia de Alex Melo, todos os direitos reservados
Desde que Francisca saíra, um quê de impertinente indagação, marcava o rosto de Oswaldo. “Tudo bem! Ela saiu como todas as manhãs, me beijou na fronte, sorriu, e foi trabalhar”, resmungava justificando a si para tentar dissipar os questionamentos que vinham. “Mas ela saiu estranha. Tinha um brilho diferente no olhar. Deve estar trepando com alguém neste exato momento”, burilava a criativa mente de Oswaldo.
A campainha da porta o removeu daquele dilema, era alguém que pedia esmolas, “perdoe, tenho não”, respondeu batendo a porta na cara do sujeito sem pensar. Mas voltou a pensar logo em seguida, “peraí, este cara pedindo esmolas estava bem vestido, com roupas novas, barba feita, cabelo penteado. Não, não pode ser! Será?”. A dúvida agora era se o esmoléu era o amante de Chica, sangrando o lábio inferior com uma rangida de dentes, bateu na parede “porra, que merda, dando prum cara, e ele tem a audácia de vir me ver, saber como é a concorrência dele, isso é demais”, certificava sua incerteza com violência. “Ele me paga, ah se paga!”, falava consigo pelos pensamentos durante horas, estava desempregado e não havia nada para fazer além de conversar com ele próprio.
O som agudo do toque da campainha rompe o silêncio mais uma vez, e Oswaldo pega uma faca para ter à porta, atrás das costas para surpreender o infeliz amante de sua amarga sorte. “Pois não”, perguntava para o vazio, ninguém parado do lado de fora da casa de Francisca Passos, ele ainda saiu para se certificar que o amante dela não o espreitava de perto. Ninguém. “Ah, não dá, porra, agora tá de sacanagem comigo? Pois que venha com suas brincadeiras, logo logo acerto seu peito com minha faca”, alucinava Oswaldo. Desde que fora despejado de seu apartamento alugado, por uma oficiala de justiça, devido ao não pagamento ao locador, morava com sua Chica, sem nenhum problema para ele, pois logo iria estar empregado e recompensaria seu amor por aquela fina ajuda.
Já passava do meio-dia e ele comera o que tinha na geladeira de Francisca. Cochilou na rede perto da porta da casa, com a faca no chão, não largara dela o dia todo, aguardando a porta se abrir para desferir seu planejado golpe, fosse no amante ou em Chica, tanto fazia, melhor seria nos dois, foi seu último pensamento antes de pregar os olhos embalando a rede com seus pés na parede.
Acordou com o ruído de chaves na porta, era ela, pensou Oswaldo quando se levantava e já tinha a faca em sua mão direita. “Quem é você?”, foi a voz de Francisca Passos que perguntava ao ver aquele estranho em pé ao lado da rede segurando uma faca. “O que o senhor quer? O que quer que seja poderemos conversar com calma, abaixa essa faca?!”, com medo em sua voz tentava dissuadir o homem a soltar a arma, enquanto pensava se tratar de um assalto. “Sou tão compreensivo com você, te trato como uma dama e ainda tem a coragem de me perguntar quem eu sou? Você e seu amante estão querendo me deixar louco. Mas não sou e nem ficarei louco por causa de vocês!”, bradou Oswaldo ao se aproximar lentamente de sua presa, como um verdadeiro felino. Francisca Passos, oficiala de justiça que cumprira o mandado de despejo de Oswaldo o reconhecera por cima de seu terror “A-a-ah, desculpa, sei s-s-sim quem é o senhor, é que sou avoada mesmo, Oswaldo não é isso?”, balbuciou quase sem abrir a boca, ficando confuso até mesmo para ele entender o que ela dissera, enquanto se dirigia à porta para tentar fugir. Entretanto, o leão já avançava sobre sua gazela, e, ao desferir dez golpes de faca, ensanguentado gritava: “o próximo vai ser aquele tal de Locador, seu amante!”.
Morta, com laranjas ao chão misturadas ao seu sangue, o vento que soprava levando o cheiro de morte aos vizinhos e Oswaldo que jogara a faca sai pela porta limpando as mãos e seu rosto com um pano indo em direção ao metrô, “ainda dá tempo de pegar aquele sujeito, ah sim, vai dar sim!”.
Nossaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...todo dia tem novidades aqui!Adoro teus escritos!!!
ResponderExcluirMil beijos !