terça-feira, 10 de janeiro de 2012

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Pelo pensamento
Escorre molenga a dúvida____
Decepção sobra






sábado, 7 de janeiro de 2012

...





Pela seca chuva
Sou levado pela enchente______
Caracol molhado.



...Haicai em solidariedade aos que sofrem com as enchentes no Brasil, agora em Janeiro de 2012.



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Lançamento literário duplo: escritores__________ Regina Lyra e Cristiano Melo - 2012








        Em meados de Março de 2012, em Brasília, acontecerá o lançamento conjunto dos mais novos livros dos escritores Regina Lyra e Cristiano Melo, “Vão da Palavra” e “da Métrica ao Caos, respectivamente. Este publicado pela Editora Novitas e aquele pela Editora Universitária (UFPB), ambos em 2011.
       
        São livros de literatura portuguesa com estilos distintos, uma vez que se trata de dois poetas que, apesar de residirem no Brasil, moram em cidades distantes, o Cristiano Melo em Brasília e a Regina Lyra em João Pessoa, da mesma maneira que os caminhos que os levaram à escrita são únicos, levando às suas verves trilharem rumos que possuem como matéria prima a palavra. Regina Lyra está em seu sétimo livro publicado e o Cristiano Melo em seu segundo. Para conhecerem um pouco mais sobre os autores e suas obras, seguem textos e mídias que dão uma ideia do que o leitor vai encontrar nestes dos livros atuais, de dois escritores que nos lembram que há Poesia hoje em dia, que existem autores vivos, produzindo suas obras e ainda, inspirarem novos autores a investirem em suas obras.
           






A INTENSA POESIA DE REGINA LYRA

Tanussi Cardoso*

Regina Lyra busca, em seu novo livro de poemas Vão da Palavra, o espaço oco, o vácuo dos significados entre as palavras: o intervalo entre o silêncio e o barulho; entre o mínimo e o máximo; entre o supérfluo e o essencial; entre o grandioso e o simples. Sua poesia transita nesse vazio, nessas reticências, nesse ar sufocante entre o que inexiste e o que existe; entre o ilusório e o real. Entremeios e Entre_Nós (título de um de seus livros). A poeta nos ensina a ser no meio desses vãos entrelaçados, diante de seus nós. Mostra-nos que a palavra resiste e nos consola, emergindo em seu fantasioso e fantástico mundo de imagens, mistérios, signos e enigmas. Assim, entre reticências e entrelinhas, no osso debaixo da pele, na raiz que existe antes da semente e da planta, na fala que vem antes da voz, Regina Lyra nos ensina que somente a poesia (o poema) pode nos salvar desse enganador mundo em que vivemos:

Na proeza das saídas,
Vejo nas dobras das entrelinhas,
Para que caibam reticências,                                               
No dobro do ato
Falho.
(Reticências)

Ou, no belo poema: Na plataforma vazia, / Entrelinhas fogem. (O trem se afasta).

Ainda: Nas entrelinhas da vida / Espinhos são encontrados / O mistério é transformá-los / Em rosas. (Fraternidade). Estes, entre tantos títulos.

Afinal, para Regina Lyra, a vida é um vão entre o passado e o futuro. O presente é um vão, como observa a poeta no ótimo poema O barco: Assim como a vida, / Precisa-se voltar a antigas páginas, / Ou virá-las definitivamente.

Há de se viver o agora. Viver o que a vida nos oferece. Sem atropelar os desejos. Sem sofrer pelo que aparenta não ser possível. Viver o que está nas mãos, diante dos olhos, sem alienação ou passividade. Com sabedoria na hora da decisão, pois entende que a vida é fugaz. Vejamos o exemplo desse instigante poema:

Encruzilhadas
Levam para bifurcadas estradas.
(...)
Nessas eternas escolhas,
Fazer o quê?
Viver intensamente
O presente doado.
(Escolhas)

Porque, para ela, a vida é uma circunstância: Tudo, circunstancial: como a vida. (Transgressora da palavra).

Logo no primeiro poema do livro, a autora nos direciona ao seu modo de pensar e fazer poesia: Entre o vão da palavra, / Versos criados com calma. (A criação).

Assim, com inteligência e sátira, Regina Lyra nos diz do seu jeito de permanecer sem jeito; e nos dá a receita do cozimento das palavras: o tempero, o sal, o mel, o melhor paladar. E, no tempo certo da fervura, nos oferece o gosto do prazer:

Quando escrevo um poema,
Sinto o sabor das palavras,
Degusto as imagens,
Faço amor com os versos.
(...)
Quando escrevo um poema,
Sei que é uma aprendizagem.
(Transgressora da palavra)

Regina Lyra constrói climas descritivos, em versos afetivos, como se quisesse criar uma atmosfera poética onde pudesse deixar suas impressões sobre a vida e o mundo. Nesse contexto, poderíamos separar sua obra em temas recorrentes, dividindo-os em quatro grandes vertentes: 1) O sensual/sexual, ou seja, a vertente do desejo e do amor (lírico e erótico). 2) O Tempo, com seu sentido de eternidade. 3) O fazer poético. 4) A perda e a partida, incessantes sensações que dominam todo o livro. 

Apesar da diversidade temática, Vão da Palavra tem unidade; essa qualidade tão importante, distanciada de tantos poetas. Inúmeros poemas nos remetem a esses motivos:

Nesse espaço da existência,
O tempo carece da razão.
(...)
Encontra-se abrigo,
No imaginário perdido.
(Regaço)

Ainda: Eterno como o tempo / Terno como a voz sussurrante. (Intenso eterno). Cerrados os olhos / Encontra o sonho partido, / Pássaro querido. / (Por que, afinal?). Busco meus eus perdidos / Nos oásis do deserto. (Transgressora da palavra). A partida do imenso, / A falta do grande. (...) / A melancolia de mais uma partida, / A alegria de mais uma chegada. / Nesta ausência, a presença: / Constância do tempo. (Brevemente). A voz estaria calada, / Por longos instantes perdidos. / (Anjo), entre tantos exemplos.

Para Regina Lyra, o amor é uma prisão, onde os amantes encontram-se, geralmente, algemados. Vejamos o belo poema Algemas, onde se ratifica a sensação de perda:

As lembranças,
Imagens acalentadas,
Presenças perdidas.
O amor instalado
Foi divertido:
Algemas lado a lado.
Nada seria preciso.
Nem mesmo confissão
Da perda, da ausência.
Tristeza por não ter permanecido,
Quando, na verdade,
Apenas sexo era querido.
(...)
Dia seguinte,
Instalado o logro.

Mas, apesar de quase sempre, logro, para a poeta: o amor é tudo. Já que o mundo é carregado por ele:

Neste desvelo,
As ancas fazem tudo,
Vê-se o mundo
Suportado
Pelo amor.
(Alcova)

Mesmo aspirando à eternidade do amor, conhece a dor do tempo e a fragilidade de se estar vivo: Ser feliz é ter ao lado o / Amor / eterno (Ser feliz).

Ou: Ah, amor!/ Como é bom ter esperança / Do encontro real, / Total. (Amor querido).

E é falando sobre o amor erótico, que Regina Lyra obtém, talvez, o melhor momento do livro, num poema digno de ser incluído em qualquer antologia do gênero:

Enquanto você brinca, eu abro orquídeas.
Levo meu cheiro de fêmea no cio.
Abro as pétalas e as coxas,
Em movimento contínuo.
(...)
Enquanto você brinca,
Eu abro orquídeas
Para
Você.
(Brincando de fazer amor)

A eternidade (o sentido de permanência e a intensidade emotiva das coisas e do Tempo) encontra-se em muitos poemas do livro, sendo, também, tema caro à autora:

Na intensidade do tempo
Passou-se o momento sem preço.
Antes que se tornasse avesso,
Travestiu-se de eternidade.
(...)
No instante intenso,
A história é contada.
(Intenso eterno)

Ou: Situação perpetuada / Pela intensidade do ontem. (Dilacerada). Intenso pensamento / Permeia a navegação do tempo. (Pensamento). E, assim, outros poemas.

Com o grande mérito de nunca ser prolixa, Regina Lyra constrói uma poesia etérea, difícil de ser catalogada ou classificada. Simples e, ao mesmo tempo, profunda. Em sua quase totalidade, são poemas pequenos, construídos em versos curtos; trabalhados em elipses, silepses, cortes e nós. Como se pensamentos soltos, embaralhados, causando certa estranheza em seu total entendimento; unidos, tantas vezes, pelo silêncio; que, ao leitor, cabe preencher.

Esse clima cria um estilo próprio, único. Como se a poeta, de forma proposital, desejasse causar certo desconforto na leitura; com versos que, muitas vezes, parecem cifrados, fora de contexto, desconectados uns dos outros; principalmente, nos términos de alguns poemas. O que a autora deseja com essas construções é dessacralizar o que possa haver de peso ou drama nos versos que antecedem os seus finais. Regina Lyra foge do final-padrão, com versos em crescendo, ou com versos que coroem o encadeamento lógico do poema. E essa característica é uma singularidade de sua poesia. Ela é avessa ao barulho, ao poema-ópera. Seus poemas se interrompem como se interrompe uma conversa com amigos, quando uma fala se coloca e se interpenetra na outra. No vão da palavra. Sem perguntas, porque há sempre uma lacuna entre o que se diz e o que realmente se quer dizer - aqui lembrando o Fingidor, de Pessoa. Regina Lyra brinca de esconde-esconde com o leitor, conversa com ele, não o assusta. Quer tocá-lo com as palavras mais simples, não com o grito. Prefere o jeito sincero e sensível. E consegue:

A noite foi carregada de lembranças,
Crenças.
Nada de preocupações vãs.
A amizade é eterna
Confiança misteriosa.
(Noite inesquecível)

Ou: Belo encanto / Pelos caminhos do poema, / Do qual guardo o tema. / (...) / Triste momento / Da foice escapa, / Mas não abafa o salto. (Caminhos poéticos). Apenas para citar alguns.

Não há nada de falso intelectualismo e pseudoerudição nessa sua forma de versejar. A poeta não se permite. Nada de academicismos ou afetação. Sua poesia é extremamente moderna sem, entretanto, retirar uma vírgula sequer de suas raízes clássicas. Isso a torna atraente, inteligente e deliciosamente lírica. Sem preciosismos formais, seus recursos estéticos e técnicos eliminam gorduras, buscam a concisão. Não há derramamentos de angústias, dores de amores ou de infância; enfim, qualquer tipo de dores em clichês. Ela não pretende ser visceral, tediosamente sofrida. Ela nos fala sem estridências. Prefere ser plácida, pausada, buscando a palavra precisa e justa; serena em suas aflições. Menos tango e mais soul. Uma dicção que não soa áspera, agressiva; antes, seus versos - mesmo quando contundentes - soam aveludados, delicados, musicais. Num ritmo cool, jazz.

Em sua poesia - extremamente feminina - o fazer poético consegue equilibrar, somar lirismo e vida; quase sempre, com grande felicidade. Obtém, portanto, uma poesia profundamente humana. E o faz com categoria, emoção e razão.
Assim, Regina Lyra não foge de suas tradições, de suas raízes literárias e poéticas (suas várias leituras e vozes). E imprime em seu trabalho um encantamento ilusório, um estranhamento ao que já foi dito e lido. Nota-se um afastamento crítico de certa literatura oficial. Há um aprofundamento dos versos; quase sussurros... Coloquiais, feitos de silêncios. Aspecto que confere à sua poesia uma vitalidade expressiva, que a torna singular na literatura brasileira. Ela alcança o que poucos alcançam: uma poesia reflexiva e coerente. Uma poesia comovente!

Outra característica que podemos encontrar nos poemas da autora é que muitos deles contam - mais do que sentem - sobre as emoções. Como se a poeta não estivesse dentro deles, não falasse de si mesma, se abrigasse numa outra persona. Inverte ou oculta o eu-lírico, o poeta-autor (a voz do poema). Prefere a distância, a ausência medida. Vê tudo com o olhar entusiasmado de um observador, de um fotógrafo, de um cineasta. Godard. Nouvelle vague. Ao mesmo tempo, na cena e fora dela.

Com os versos transformados em vãos entre a linguagem e a ideia do poema, Regina Lyra radicaliza a sua estrutura. Mistura as vozes poéticas (eu-lírico/poeta-autor) ou quebra, abruptamente, o andamento (cadência, ritmo) do poema. Os versos fluem harmonicamente, mas por vezes são quebrados por dissonâncias, com ritmos diferenciados. São sonhos ou realidades, vividos ou não, pela autora. Poeta que ora se esconde, ora se mostra; mas sempre de maneira sutil, plena de subterfúgios. Vejamos:

Talvez tenham chegado
No momento certo,
Para descortinar
O que estava encoberto.
(...)
Apartados de mim,
Fui ao fim!
(Perdição)

Ou: Nada me faria mais feliz / Do que romper laços, / Mesmo em sombras de traças, / Atracadas em cais fantasma. / (...) / Talvez na fé de um momento qualquer, / Libertar-se-á. / (Nada faria), e vários outros poemas.

Regina Lyra, com sua característica de (re)novar o seu próprio verso, sem deixá-lo cristalizar; com sua solução de movimento, atira-se nos poemas, sem medo de errar. A poeta - consciente e humildemente - prefere agir, fazer, ousar; ao invés de ver seu trabalho e a si mesma estagnados. Leiamos o ótimo poema Medo:

Não ter medo.
Exorcizar os temores.
Agradecer a ajuda
Em tudo
- Até no erro.

Outra especificidade formal que podemos encontrar nos poemas de Regina Lyra é a distribuição espacial dos versos nas páginas. Em particular, o recurso da verticalização das palavras, existente na grande maioria dos poemas inseridos no livro. Um recurso estilístico que, nem sempre, cumpre com a aparente intenção de enfatizar a força da palavra dentro do poema. Trata-se de uma técnica anteriormente muito empregada pelos poetas das Gerações 60/70, por influência dos concretistas. Utilizada à exaustão, pode correr o risco de cair no vazio, numa espécie de recurso do estilo pelo estilo. A leitura minuciosa desses poemas e da função da verticalidade na poesia da autora permite ao leitor extrair elementos para entender (para efeito de juízo crítico) se essa preocupação está enraizada na intenção da poeta ou se pode qualificar-se, somente, de vício literário ou de moda poética. Porém, se analisarmos com isenção a característica da função da verticalidade na poesia de Regina Lyra, teremos a certeza de que ela exprime a sua dimensão interior. Assim, nada se encontra ali por acaso, nada é feito de maneira gratuita. Desse modo, a insistência da autora na utilização das palavras em vertical tem a exata função de enfatizar uma ideia, que dá lógica e suporte a um pensamento poético.

Para finalizar, um pequeno exemplo, não à toa intitulado Poemas. O texto salienta o que me parece ser o atual estágio de seu trabalho: uma pérola lapidada.

Em cada bom poema que leio,
Encontro pérolas aninhadas.
Desconfio que a poesia
Seja uma pérola lapidada.

Acreditem: Regina Lyra, em seu livro Vão da Palavra, lê o mundo e o devolve a nós, seus leitores atentos, refeito em beleza.


*Tanussi Cardoso
Poeta e Jornalista.
Presidente do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro.









PREFÁCIO DO LIVRO DE CRISTIANO MELO *




Há mais ou menos três anos, o Cristiano Melo enviou um e-mail perguntando o que eu pensava sobre ele enveredar pela escrita de sonetos. Na hora eu disse que escrever sonetos era extremamente difícil, pois envolvia matemática (métrica), conteúdo e emoção. Contei para o Cris que eu era apaixonada por sonetos, principalmente os de Augusto dos Anjos, e que fazia algum tempo tentava escrever, mas esbarrava na matemática. Cearense porreta que é, ele não desistiu e disse que escreveria sonetos em seu próximo livro. David e eu acreditamos no projeto, principalmente pelo desafio e a beleza que sonetos perfeitos despertam.
No meio desse ano, Cris terminou o livro e teve a ideia de misturar sonetos e poesias livres em versos brancos, rimados ou somente sentidos. “Da Métrica ao Caos” são dois livros em um, unidos por suas duas capas; a primeira parte do livro com poesias e sonetos belíssimos, complementado na segunda metade por poesias variadas em assuntos e estilos, resultando em um “produto final” que é tanto elegante quanto arrojado. Você não terá coragem de abandonar a leitura de “Da métrica ao caos” até chegar ao final, viciante que se tornou.
Cris, que já tinha a mão certeira para escrever, mirou no alvo, arriscou e trabalhou muito para concluir seu novo  livro. Foram quase três anos, de revisão, contagem de sílabas… Da matemática-emoção. O resultado está aí, em um livro bem realizado, que sempre será um brinde à literatura!

*Letícia Losekann Coelho
Editora, escritora e pedagoga.










Mais uma de...

trabalho digital por Cristiano Melo




Triste de ti que me compreendes
Que me enxuga os olhos
Quando os teus estão molhados
Pois percebes, sentes o mesmo.

Sina retesada pelo infortúnio
Fortuito e carregado de espinhos
Num caminho que se sabia tranquilo;
Não era e nunca fora.

Ah, se eu pudesse confortar as nuvens!
Com minhas mãos calejadas
Rubro sangue da sabedoria imerecida
Mas há de se ter.

(quero a tua mão)



quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sobre o livro "As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar" de Isabel Mendes Ferreira





Isabel Mendes Ferreira, por vezes eu a escrevo Isa, e por outras a reverencio com o seu nome completo: Isabel.
Doce Isa, Isabel do tempo, “o tempo é renda” como lembra a escritora, aqui no Brasil sua escrita deveria ser cantada aos quatro ventos, pois nasce, desenvolve, transcende, morre, transmuta inspiração.
Poderia tentar descrever a autora, como e em que grau a conheço, mas isso é pouco, pois Isabel Mendes Ferreira é das melhores escritoras de Portugal, em nossa atualidade. O privilégio e alegria de receber em casa, um dos últimos exemplares da edição de 2010 “As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar”, pela editora Babel, me fez ter vários momentos. A já mencionada alegria, que se seguiu de surpresa, encantamento (aí os sentimentos e alhures que os textos geraram a este leitor: raiva, angústia, alegria, candura, drama, tragédia, pressa, ressalva, pertencimento a humanidade e tanto o mais que nos torna humanos), deslumbre e novamente a alegria, mas desta vez já transformada pelo livro. Sim, para quem me lê, o livro (talvez qualquer um) transforma o leitor, mas não da maneira usual, e sim, especial, uma transmutação se dá (se deu), a alegria agora tinha o tempo e matizes de uma sonoridade sem mar.
A escritora mostra ao leitor, como é possível ser original, em meio a tantas naus naufragadas, em ritmos e marcações, que seguram ou desviam o fluxo natural da palavra. Habilidosa rendeira de palavras, como as rendeiras nas praias nordestinas brasileiras, ela tece, prestimosa, os fios numa fina renda de verbos que saltam alegres e tristes. Tudo tem vida. Deve-se retornar ao livro, sem pressa, sem ordem, com o caos que ela consegue organizar, com o fio do tempo.
A originalidade na construção de suas frases nos leva da prosa ao verso. São cerca de 400 páginas de pura magia que não se pode atrelar a qualquer tipo de construção que exista. Ela é única. Fiquei preso a trama da renda do tempo. Sou outro agora. Depois dela. De seu livro. Percebo o tempo. Sou dele e nele me transformo. O tempo.
Rebelde, ácida, leve, maternal sem filho, é tudo isso e mais.

“o mundo cá dentro e o silêncio lá fora

horas que tardam na sangria do tempo

foram os teus sinais de espada que me deram o nó.
na dissoluta e aérea boca do tempo deslacei a carta...

...sem domínios. dominós de ais. como poros. ou ravinas."

      Ferreira, Isabel M. pg. 187

Não se consegue desgrudar do livro, sempre se quer ir mais e mais pra dentro, pro fundo das “Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar”. Vá só. É uma viagem segura, em que o máximo que pode acontecer é encontrares a ti, nos teares da escritora.

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