quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sobre o livro "As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar" de Isabel Mendes Ferreira





Isabel Mendes Ferreira, por vezes eu a escrevo Isa, e por outras a reverencio com o seu nome completo: Isabel.
Doce Isa, Isabel do tempo, “o tempo é renda” como lembra a escritora, aqui no Brasil sua escrita deveria ser cantada aos quatro ventos, pois nasce, desenvolve, transcende, morre, transmuta inspiração.
Poderia tentar descrever a autora, como e em que grau a conheço, mas isso é pouco, pois Isabel Mendes Ferreira é das melhores escritoras de Portugal, em nossa atualidade. O privilégio e alegria de receber em casa, um dos últimos exemplares da edição de 2010 “As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar”, pela editora Babel, me fez ter vários momentos. A já mencionada alegria, que se seguiu de surpresa, encantamento (aí os sentimentos e alhures que os textos geraram a este leitor: raiva, angústia, alegria, candura, drama, tragédia, pressa, ressalva, pertencimento a humanidade e tanto o mais que nos torna humanos), deslumbre e novamente a alegria, mas desta vez já transformada pelo livro. Sim, para quem me lê, o livro (talvez qualquer um) transforma o leitor, mas não da maneira usual, e sim, especial, uma transmutação se dá (se deu), a alegria agora tinha o tempo e matizes de uma sonoridade sem mar.
A escritora mostra ao leitor, como é possível ser original, em meio a tantas naus naufragadas, em ritmos e marcações, que seguram ou desviam o fluxo natural da palavra. Habilidosa rendeira de palavras, como as rendeiras nas praias nordestinas brasileiras, ela tece, prestimosa, os fios numa fina renda de verbos que saltam alegres e tristes. Tudo tem vida. Deve-se retornar ao livro, sem pressa, sem ordem, com o caos que ela consegue organizar, com o fio do tempo.
A originalidade na construção de suas frases nos leva da prosa ao verso. São cerca de 400 páginas de pura magia que não se pode atrelar a qualquer tipo de construção que exista. Ela é única. Fiquei preso a trama da renda do tempo. Sou outro agora. Depois dela. De seu livro. Percebo o tempo. Sou dele e nele me transformo. O tempo.
Rebelde, ácida, leve, maternal sem filho, é tudo isso e mais.

“o mundo cá dentro e o silêncio lá fora

horas que tardam na sangria do tempo

foram os teus sinais de espada que me deram o nó.
na dissoluta e aérea boca do tempo deslacei a carta...

...sem domínios. dominós de ais. como poros. ou ravinas."

      Ferreira, Isabel M. pg. 187

Não se consegue desgrudar do livro, sempre se quer ir mais e mais pra dentro, pro fundo das “Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar”. Vá só. É uma viagem segura, em que o máximo que pode acontecer é encontrares a ti, nos teares da escritora.

11 comentários:

  1. Caro Cristiano; não tivesse eu lido o livro e ficaria agora depois das suas palavras, com uma fortíssima vontade de o ler. Todavia e como o li, só me resta subscrever o Cristiano discordando, porém, num ponto que é este; a Isabel Mendes Ferreira não é só uma das melhores escritoras contemporâneas portuguesas, é sim e na minha opinião, a melhor.

    Abraço agradecido por esta sua postagem.

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  2. Meu caro José Pires F, o teu "Como se fora um posfácio..." ao final deste livro traz informações sobre a versatilidade desta que é a minha escritora predileta. Sou-lhes muito grato. Forte abraço.

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  3. Gratos somos então, todavia, serei mais eu pela excelente divulgação que o Cristiano faz da nossa escritora predilecta. :)
    Outro e forte abraço.

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  4. Estou lendo e mastigando, ou melhor dizendo, fazendo uma interessante viagem com este livro de Isabel Mendes Ferreira. Depois, dar-vos-ei um texto, decerto singelo, mas com as minhas impressões.
    Gostei de vos ler aqui e em "As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar".

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  5. Meu caro Manuel,
    ficarei honrado com um texto com tuas impressões sobre o livro. Obrigado e boa viagem. ;)

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  6. um dos livros da minha vida!

    alice macedo campos

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  7. Alice,
    Obrigado pela visita.
    Ele fica na minha cabeceira atualmente.
    Abraços

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  8. Excelente recensão, justiça a Isa, magnífica poeta!

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  9. Obrigado Maria.
    :)
    Ela merece bem mais que isso.

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  10. Caro Cristiano, a nossa " habilidosa rendeira de palavras ", é também, na minha opinião, a maior poeta da língua portuguesa. Ela é enorme. As suas palavras são pérolas de ouro. E com elas mostra-nos a dimensão profunda do nosso ser misterioso. Parabéns ao seu comentário e parabéns à amiga Isabel.

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  11. Grato, caro Eduardo.
    Muito oportuno o teu comentário, que enriquece o meu comentário ao complementá-lo, e enaltece merecidamente a grande poeta.

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