sábado, 28 de fevereiro de 2009

Cabelo


Cabelos crescem como plantas,
A cabeça e o tempo
Espaço eu tinha,
No esquivo pensamento!

Se o mato toma de conta o verde,
Apará-lo faz-se jardim,
Beleza artificial sem capim
Canteiros nobres de augusto lorde.

Deixar que seja natural
Avança o tempo e aumenta
O cabelo atual.

Remover capilares de tormenta,
Alivia um pouco o astral
Respira livre a cabeça lenta.

Cristiano Melo, 26 de Fevereiro de 2009.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

CHICA


Cadela de nascença,
Cachorra de nome,
Chica de batismo
Alegre por natureza.
Fêmea efêmera em tempo,
O tempo passa mais apressado aos cães
Mas não por isso deixamos de aproveitar,
Cada momento juntos.
Um amor assim,
Completamente entregue,
Sabe-se lá os motivos de karma
Mas és bem-vinda
Em minha vida

Minha Chica querida!

Mofo

Mofo, fungo, hifas e brotos,
Bactérias
Vírus
Parasitas!

Convivem conosco diariamente,
São seres dos seres,
Em equilíbrio,
A mais pura saúde

Basta a balança pender,
Têm-se uma doença

Meu coração foi tomado,
Meu cérebro não resta quase nada
O fígado já não responde
E os pulmões não dão nem mais uma baforada

Quem causou tal desequilíbrio,
Além de mim mesmo?
Nada a responsabilizar,
Nem aos seres dos seres

Nem a mim mesmo.

Cristiano Melo, 25 de Fevereiro de 2009.

Negros Olhos

Nos olhos negros que me fitam,
Sem órbita,
Só íris escura e uma boca escancarada
Penso ser, ter um quê de humano

Penso? Então talvez seja mesmo humano,
Como talvez sejam humanas estas patas que tomam o lugar de mãos
Ou ainda estas felpudas cochas no lugar de pernas.

Chifres brotam de minha face,
Chego a não ter mais dúvidas kafkianas,
Sou um animal, não humano,
Mas pensante!

Soçobram pensamentos,
Um pouco de sentimento
Mas não sou o mesmo no espelho
Sou garras e chifres,
Dos negros olhos que me fitam.

Cristiano Melo, 25 de Fevereiro de 2009.

O Apartamento

Vago pelo apartamento vazio
Feito alma penada
Com pesos acorrentados aos pés
Nus de um homem sem carne.

Desde que partiste,
A mobília ainda paira ao ar
Descompassos nos passos levitados
De alma penada.

Já fui um ser, sabes?
Já andei pelo chão,
Com a mobília no lugar.
E tudo o mais que segue.

Hoje recebo flores de papelão
Feitas por duendes disformes,
Meus únicos companheiros,
Que me oferecem comida envenenada.

Já fui um homem com carne e osso,
Já tive amores e dissabores,
Já ardi de paixão e raiva
Todos aqueles sentimentos.

Hoje não passo desta forma amorfa
Assombrando o apartamento
Que um dia foi nosso
E hoje é o meu caixão.

Cristiano Melo, 25 de Fevereiro de 2009.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Adeus

Órfão do amor
Com o coração partido
Tentando apagar a dor
Sigo o meu caminho...

Sirvo-me do que aprendi
Dissecando fundo as cicatrizes
Para suavizar as matizes
Da desilusão torturante!

Sou um guerreiro andante
Que segue errante
Por entre as linhas escusas
De todas as minhas musas

Dor viva
Lancinante
Abusiva
O bastante

Machuca, corrói,
Espanca, destrói.
E assim, na dialética, constrói
A cicatriz desta dor

Penso, reflito
E repenso aflito
Que talvez esta dor
Sempre vem com o amor

Estupefato percebo
E logo concebo
A única opção:
Esquecer do coração...

Esquecido do amor
Consigo viver
Órfão de ter
E não querer mais esta dor

Por isto, ADEUS meu amor!!!

Cristiano Melo, 2005

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Tempos de Labacé

O alvorecer com luzes douradas
Pássaros que alegres despertam nas copas...
Não alegram este ser encharcado de cachaça
Nem amenizam o corte sanguíneo da separação.

Jogaste minha confiança junto ao ralo da sordidez.
Enquanto consolidava uma relação,
Seus vícios te levaram a promiscuidade
E apenas me resta lamber o que sobrou de mim.

Ao meio-dia não tenho fome,
Apenas desespero e cachaça,
Psicotrópicos e melancolia,
O fim se deu e outros fins se aproximam.

Ver teus pertences em minha casa
Dá-me enjôo e, nauseante,
Ateio fogo ao que um dia foi nosso.
Saia ao entardecer, não deixe pegada.

Vá-se com teus hábitos de sexo barato,
Que me resto encharcado de cachaça.
Reparos hepáticos são possíveis,
A traição pela traição, não!

Corre daqui, foge!
Pois do fogo que consome o que era nosso
As cinzas são minha herança e desgraça.
Cinza o céu que acima troveja.

Cristiano Melo, 24 de Fevereiro de 2009.

Encanto e Armadilha

Talentos ocultos pela mansa fala,
Verniz que retine o lúgubre pensar,
Realidade e fantasia se misturam.

A interlocução do fantástico
Ao cotidiano ludibria os menos atentos.

Mistura-se fácil à multidão,
Imperceptível.

Faz-se bruma onde espessa é a água,
Faz-se espesso no líquido sorrateiro.

Hipnotismo intencional ao ser vital,
Do seu interesse não emocional.

Extirpa o coração e não o devora,
Seu verdadeiro infante troféu.

Jazigos o acompanham, inertes.
Morte, morte e morte...

A cor de seus olhos brilha em um opaco cinza,
Como os do anjo soturno, sem brilho.

Dir-se-ia que se tornou predador,
Pela sua Jocasta, castradora e dominadora.

Dir-se-ia que suas vítimas
Portam a máscara de sua mãe.

Laços desenlaçados com o Outro,
Para o seu próprio deleite,
Nasce um sociopata.


Cristiano Melo, 22 de Fevereiro de 2009.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Bom Dia


















fotografia de Alexsandro Melo



Sentado à mesa de uma padaria
Com uma xícara de café
Escrevo um poema
Aos bebericos de água com gás
Bom começo de dia!


A brisa suave matinal
Os carros em arrastado preguiçoso
As pessoas que brotam de todos os lugares
Início de um dia...


Os pássaros saúdam o Sol
Os aspessores borrifam o verde dos canteiros
Crianças de uniforme
Começa-se o dia...


As buzinas dos carros são iniciadas
Ruídos nas esquinas
O café termina
Já é dia!


Correr?
Malhar?
Estudar?
Trabalhar?
É hora do chá...


Continuo à mesa
Com uma xícara de chá
Concluo o poema
E no dia adentro.
Vou já,
Depois do chá.


Cristiano Melo

Mundano

Mundano,
desenraizado,
humano.

Barbado de molho,
escaldado.

Crente nos seres
que se mostram
como são.

Comoção,
descrente em outros tantos.

Construo-me,
desconstruo-me,
dia-a-dia.


Cristiano Melo
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