sábado, 7 de agosto de 2010

Suicídios

Fotografia de Alexsandro Melo


Já tentei exorcizar meus infortúnios com bebida,
Mistura de barbitúrico com nicotina,
Anfetaminas e ansiolíticos de esquina.

Já tentei cortar os pulsos da palavra não-dita,
Enforcar o vexame do escândalo da mentira
Saltar do prédio com as costas na brisa.

Dizem que somos responsáveis pelos nossos atos
A felicidade e o sofrimento dependem de nós.
E a quem responsabilizar pelo fato entreatos?

Responsabilizar-se pelo que se diz e age como algoz
É no mínimo hombridade, mas qual o que de hiato.
O pobre diabo já nasce sem braços pra se quebrar sua noz.

Volto às divagações, meditar sobre as ações
Que eu me responsabilizo, sem óculos pra enxergar
O livro de palavras soltas que é a sua hedionda alegria.

Abra na página da confiança, energúmenas mutações
Do que se diz e como se age, livro sem leitura e com par,
De óculos para apunhalar no alvo que lhe cabia.


Cristiano Melo, 07 de Agosto de 2010

Mais um dia

Amanheço com uma certa alegria suave.
Poder-se-ia dizer que o dia iria ser alegre.
Afazeres matinais corriqueiros e o entrave.
O ponteiro do relógio na cabeça e a febre.

O dia ensolarado com pássaros cantantes
Pela sacada, no jardim, vejo os transeuntes
Gosto amargo na boca da sutura na alma,
Que abre por não estar cicatrizada, calma!

Não gosto de “quês” nem de “quandos”.
Palavras com o Tempo revolvem o dia.
Vem a ser então mais um dia em prantos.

 Não gosto de “porquês” nem de “quantos”
A alegria natural fenece numa agonia,
Que num salto da sacada termina.


Cristiano Melo, 07 de Agosto de 2010.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Catacumbas vitais

Sorria, mostre o dente,
Aperte os olhos e franza a testa
Abra os braços para um acolhimento
Vá em direção ao seu eu, sem medo!

Como manual de auto-ajuda demente,
Entregue-se à estupidez funesta
De acreditar que o sorriso num remendo
Levará a felicidade ao seu lado!

Não há receita, nem conselho.
Não há reza brava, nem macumba.
Não há mandinga, nem pentelho.

Se queres viver livre, emirja da catacumba
Não pare para ver, ouvir, sentir, cheirar, refletir no espelho
A única coisa certa afinal é a sua tumba.




Cristiano Melo, 04 de Agosto de 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

Ruim



A discussão entre o bem e o mal,
O ruim e o bom adentram séculos,
Permeia as fantasias que buscam
Comprovar a sua tese.

Dicotomia perigosa e fatal
A levantar guerras por binóculos
E dentro de seu lar que o amedrontam.
Genocídios corroborados em síntese.

Se o bem ou o mal existem de fato,
Pouco importa a quem se afeta.
Se o bom ou o ruim atingem o gato,
Vale ao mesmo saber de sua rabota.

Conjugar verbos de extermínio
O homem sempre soube fazer
Por conta do desrespeito à diferença
Em nome do bem ou do mal.

O soldado é tão obtuso e exímio,
Quanto o general de estrelas a cozer
Como a alma assustada nesta dança
Mórbida que não acompanha gestual.

Paz na Terra, dizem muitos,
E são justamente os que apedrejam
Em suas ideologias ridículas
Pobreza de reflexões realistas.

Um dia a Natureza cobrará seus frutos,
Não importando o lado de onde estejam
Serão todos destruídos como cutículas
Removidas de unhas adoecidas.

Poema integrante de PALAVRAÇÃO, a III Coletânea Scriptus da Editora Novitas

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