segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
sábado, 7 de dezembro de 2013
O silêncio do vazio
Abriu a porta, rápido e certeiro.
Empurrou-a por trás de si e a trancou:
Silêncio do vazio, altaneiro!
Ela já não estava lá e chorou.
Colocou sem pensar as roupas na máquina,
Sabão em pó mais um amaciante.
Na panela de barro alguns legumes
Bastante água, temperos e o arroz.
Brincou cansado com a sua cadela
Junto ao espaço da bagagem dela,
Foi deitar na varanda em sua rede.
De lá fitou o mar, os olhos dela.
Tudo ao redor numa saudosa aquarela;
Ouviu um bem-te-vi, sorriu e dormiu.
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quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Expectativas
Suspeitou desde cedo não viver.
Ganhar números para ser alguém,
Juntar-se a outros para apreender
A humanidade em códigos, amém.
A vida era sentida sem sentido.
Talvez não fosse Vida, mas sim morte.
Viver morto como um nauseabundo
Junto com vivos-mortos, mesma sorte.
Expectativas que não pertenciam
A ninguém além do que é esperado.
Há de viver, ter; não olhar pro lado!
Alguém tem de morrer para manter
A vida que não é Vida existindo...
Só restam horas para se Morrer.
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domingo, 17 de novembro de 2013
Não!
Dói mais ter vivido e ser surpreendido
Por doença fatal, que nunca ter conhecido
O que vem a ser alegria e ser alguém ativo.
Não, não há beleza em ter vivido!
E, agora um ser bandido, isolado.
Nossa sociedade não quer doente,
Triste ou moribundo, demente.
Apenas o que se encaixa no quadrado.
Depois de tanto viver, conhecer o mundo;
O desapego se torna tortura ao olhar um conhecido
Com status de amigo que te vê como estorvo,
Ou não vê. Não quer nem pensar em esquecer seu Volvo.
Como fitar a impermanência em uma cadeira de rodas
Quando há pouco nadava em oceano aberto?
Poderia até meditar em suas lembranças amadas
No entanto, os joelhos doem e teu “amigo” desliga o telefone
por certo.
Não! Não há beleza alguma em ser eletrocutado
Contido por drogas inúteis
Internado por motivos fúteis
Fazer quimioterapia até seu óbito.
Se estes versos saúdam a revolta
É o pouco de conforto que se encontra
Nas letras e palavras, não nas pessoas,
Cada vez mais ausentes nas garoas.
Não! Não há uma inteira vida em terapia
Décadas de meditação por um mundo melhor
Compreensão de que o outro só dá o que tem na veia
Que possa alterar a revolta e o estupor, muito menos a dor!
De ter vivido, muito bem. Muito. E de repente
Cabum! Doenças que te remetem a sarjeta
De onde talvez, isso poderia ser um consolo renitente,
Nunca estivera em outra saleta.
Não!
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Beco sem saída
Acordara ali sem saber onde estava. Lembrava que havia tomado comprimidos. Muitos. Cortado veias e artérias nos braços e pescoço. Já estava apagando quando ainda tentava encontrar uma artéria, mas o máximo que conseguiu foi achar uma arteríola, não suficiente para ajudar no seu intento. O que poderia levá-lo a morrer era a falência renal causada pela overdose de comprimidos para quimioterapia e outras drogas. Pelo que percebera acordara no inferno. O primeiro pensamento mais claro foi “merda, quem se suicida vai mesmo pro inferno. E ele, o inferno, existe. Porra!”. Numa espécie de cama com colchão de um milímetro de espessura quando muito e um calor de matar, dormiu. Foi acordado por alguém de jaleco branco para entrar numa fila com outros moribundos e tomar uns comprimidos estranhos de formatos, tamanho e cores variados. Muitos. Como chegou até a fila e conseguiu ficar em pé é um dos mistérios que não seriam desvendados ali, palco de muitas coisas estranhas. Afinal para que tomar comprimidos no inferno? Escutava gritos, gemidos, grunhidos, latidos e o suor escorrendo exalando mau cheiro. Quanto tempo estava ali? Horas, dias, semanas? Noção de tempo era privilégio que não ousaria. Afinal estava pagando o que fizera. Quando conseguiu erguer os olhos por conta de um berreiro de alguém, conseguira ver seus braços ainda cheios de sangue. Isto lhe deu certo alívio, pois o tempo afinal lhe era mostrado. E, com certa acurácia no sentir, fora aos poucos percebendo que ainda estava vivo, mas ainda assim numa espécie de inferno. No exato momento que descobriu ou ainda desconfiou estar vivo, alguém mijou em seus pés, para logo em seguida outro fazer o mesmo na cabeça. Não conseguia se mexer. Apagou de novo. A mistura do suor e mijo já não importavam mais, era o cheiro do lugar. Sem ideia de quanto tempo ficara ali sendo que as únicas coisas a lhe levantar eram, a maldita hora de tomar aquelas drogas e para descer e comer. Descer. Era ou não era um inferno? Talvez um purgatório onde não se conseguia comer nada, sem fome, sem vontade de fumar. Sem vontade. Mais mijos se seguiram junto com merda desta vez. Ainda não conseguia reagir e acreditava merecer aquilo. Já não sabia se tinha febre ou o calor que lhe era o termômetro dando a temperatura. Pensamento algum conseguia se fixar, apenas o básico e olhar para o que acontecia. Brigas pela comida que deixava no prato. Perseguição por ser forte para eles que eram muito magros, baixos e sem dentes. Para eles talvez representasse uma ameaça. Por isso mesmo sofria agressões e ameaças. Mijadas e cagadas dia e noite. O homem do jaleco branco apenas ria, não saberia dizer se pelo fato em si ou por não conseguir falar palavra alguma, completamente mudo. Tivera mais uma prova de que provavelmente ainda estava vivo quando recebeu uma carta de sua mãe com algumas frutas, imediatamente devoradas por aqueles seres sem dentes. Poderia se perguntar como eles conseguem mastigar maçãs sem dentes. Mas a carta que importava. Nela lera uma angustiante dúvida sobre tudo, talvez mais que pudesse ter. Lá também havia algo que queria responder, escrever para ela, mas o homem do jaleco branco perguntou para quê? Além de não conseguir falar, não podia escrever. Só podia ficar deitado sem descer para comer, mesmo obrigado por uma mulher de jaleco branco, e aguardar a próxima mijada ou o cuspe no copo que não lhe pertencia.
Uma vez conseguiu ir ao único banheiro no lugar, utilizado por lá saberia dizer quantos desdentados.
Começara a se molhar para tirar o cheiro de mijo. A água era fraca, não conseguia
ficar em pé e, quando um desdentado o viu, chamou outro que chamou mais um e logo havia uns
dez desdentados no tal banheiro. Fora mordido, derrubado, espancado, surrado.
Esperma era o novo mijo. Não via mulheres desdentadas ou não até ali. Apenas a de jaleco branco,
talvez a cozinheira. Após este episódio, era o primeiro da fila para
tomar as drogas que não lhe deixavam pensar. Passara a ser acordado por brasas de
cigarro. Algo como um esporte local, talvez por ser o único com dentes. Merecia aquilo
tudo. Algum pensamento veio e estava em dúvida, aquilo era o inferno, era o
purgatório ou estava vivo em uma instituição de doentes mentais? Mas logo
era hora do homem do jaleco branco, mais drogas. Sem pensamentos. Sem fome. Sem nada, além de esperar a morte. Afinal não era o que queria no começo? Do que
reclamar? Que fosse logo. Que cortassem sua garganta a qualquer hora. Que arrancassem sua pele quando fosse ao banheiro. Que dessem uma overdose do comprimido caramelado laranja.
A carta de sua mãe o mantivera por algum tempo são, se é que se poderia afirmar tal coisa. Aprendera que a esperança era algo tão
inútil quanto rezar para que algo ou alguém o salvasse. Nada poderia mudar aquilo. Levasse o
tempo que fosse. Ficaria ali, comendo o pão que o diabo amassa todo dia para quem
merece. E por merecimento, comeria todo dia este pão, fazendo cara de alegria para não ter que comer mais. Os desdentados não o esqueciam nunca. Faziam parte do todo que era aquele inferno. Estivesse ele vivo ou morto. Ali era um inferno. E, fatalmente aconteceu. Não teve retorno. Os dentes
começaram a cair e então começara a mijar onde bem entendesse.
domingo, 10 de novembro de 2013
A aleatoriedade do caos
American Horry Story, 2013, FOX
A aleatoriedade do caos
Enquanto alguns vivem sem surpresas
Outros sofrem tragédias
Nada além do aleatório
Pode ser você
Pode ser eu
Qualquer um que esteja vivo ou vivendo
Tragédia! Caos! Vida!
O que seria tragédia para alguns
Nada mais é do que um sorriso amarelo para outros
O sorriso amarelo para quem sofre de vida
Nada mais é que culpa-cristã, hipocrisia...
A vida e o caos não são o que se costuma chamar destino
É apenas causalidade, sorte
Ninguém nasceu para grandes feitos
Tampouco para sofrer dores extenuantes sem cura
Apenas a aleatoriedade do caos
Com isso dito, sente-se melhor caro leitor?
Não, claro que não!
Então se sente
Viva o que há de ser vivido
O prato já não está servido
Sente-se!
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sexta-feira, 8 de novembro de 2013
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Agorafobia
Bicho preso na gaiola ________
Ninguém que se importe
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terça-feira, 5 de novembro de 2013
7º BookCrossing Blogueiro
Caro leitor, mais uma vez participo, divulgo e convido do/ao
BookCrossing Blogueiro capitaneado pela queridíssima Luma. A ideia é simples,
solte um de “seus” livros em qualquer lugar público e escreva que este livro
está ali para ser lido e depois deixado para ser encontrado e lido por outra
pessoa e... Dar asas ao livro para encontrar leitores. Ler é uma aventura, o
livro também pode viver uma. Pratique o desapego e participe do 7º BookCrossing
Blogueiro e para deixar ainda mais interessante, fotografe a sua “soltura” e
poste na página do Face Book ou no blogue da Luma. Já tenho ideia do que irei
libertar desta vez. Lembrando que o período desta edição será de 8 a 16 de
Novembro de 2013.
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Interlúnio
imagem de American Horror Story, FOX
Coligia chorrilhos de contrição
Lançados
aos ladrilhos macambúzios.
Compungir-se
de feitos, ora não!
Quebrantar
tinos ditosos, ora vazios!
Amedrontado
por fantasmas,
Por
humanos, por micro-organismos,
Por
células, genes, enzimas...
Regozijava-se
em pular abismos.
Ciclo
ininterrupto da vida é
A raiz de
seus infortúnios.
Interrompida
fosse, como em interlúnios,
Poder-se-ia
caminhar com o próprio pé.
Parar ou
continuar, eis aqui um impasse!
Se vais ou
não sustentar suas escolhas
Malditas
ou não, seria bom que chorasse
Pela
sórdida mão estendida cheia de bolhas.
Pudesse
fugir, para onde iria?
Vermes
acompanham de perto
A hora de refestelar-se
com alegria
Daquela
alma perdida por certo.
Pudesse
gritar, quem ouviria?
A família
pronta para te internar?
Ou o cachorro
lambendo a virilha?
Nada que
faça irá modificar.
Pudesse
morrer, morreria.
Sem o tempo
no teu calcanhar
Nem a
lembrança da selvageria
Que é
tentar o outro aceitar.
Passo!
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
Diagnóstico
Algo de estranho começa a acontecer.
As pernas já não te levam para onde queres,
As mãos entortam os dedos quebrados em halteres,
A coluna dói e finda por endurecer.
De súbito, nem sabes como, muito menos quando;
Já estás a receber veneno na veia para melhorar.
Veneno! Este é o tratamento daquilo estranho a lhe dar
Melhora de um lado, piora do outro, um espanto.
Trôpego, tropeçando nas pernas recebe o diagnóstico:
Letras, números e uma doença com nome impronunciável...
E a pergunta na cabeça zonza, de que serve o nomeável?
Alívio ou cura não existem para algo deveras fatídico.
Incurável, grave, autoimune e tens que aprender
A aceitar que terás de tomar veneno o resto da vida.
O que lhe sobra dela, até o anoitecer,
Quando a morte talvez lhe cure a ferida.
Talvez!
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terça-feira, 29 de outubro de 2013
terça-feira, 22 de outubro de 2013
sábado, 19 de outubro de 2013
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
sábado, 12 de outubro de 2013
Meus amantes
Meus amantes possuem algo em comum:
Ficaram no passado! Olho em frente,
A linha do horizonte tem mais nenhum
O presente te empurra pra adiante.
Momentos em retalhos são mosaicos,
Fragmentos de frágil habilidade.
Passados se transformam paranoicos,
Em grande estupor de felicidade.
Hora de deixar páginas em branco!
Reaver o sentido da esperança
No agora que está bem pelo seu flanco.
Novos amores sem uma lembrança,
Num futuro sem muito solavanco,
Virão pintando com perseverança.
domingo, 6 de outubro de 2013
Ilusões renitentes
Quantas vezes se pode aventar enganos?
Há um número definido para tal feita?
E mais, quantas indagações lhe são pertinentes?
Tendo-se passado algumas décadas com panos
Em venda nos olhos no intuito de ter por certa
A vida e realidade no bojo acurado, renitentes.
Pulsa
Pulsa
Pulsa
O que exatamente?
O coração bombeando o sangue
Ou outra coisa mais sutil?
Pulsa
Pulsa
Pulsa
Na sobrevivência do ser em meio ao labirinto de viver
Algo se perde, tanto se encontra e mais se enxerga
Salutar perder e se encontrar, com a certeza de não se ter
Quisera que suas quimeras pudessem lhe tornar pirâmide
Parabólica de energias incompreendidas na verga
Quanto mais se acredita encontrar mais se fica distante
Pulsa
Tum Tum
Pulsa
Tum Tum
Far-se-ia carne onde espaços vazios são criados
Onde se deixa pulular de propósito ingênuo
Os encontros que lhe são tomados
Tem-se amor, paixão, raiva, rancor, e tudo o mais no coração
Vai-se feliz, cambaleante, tropeçando em si mesmo
A vida pulsa e é assim. Nada além.
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quinta-feira, 3 de outubro de 2013
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
sábado, 17 de agosto de 2013
O Rugir do Silêncio
E eis que a prisão neste mundo
Deixa-me incompleto e mudo
Se o silêncio fala demais
Moribundo, o meu hurra; ruge.
Com celas de pétalas dos rosais
A encarcerar tudo ao redor, foge!
Tudo dentro do silêncio que me come
Devora e destrói o que não se constrói
A alma não está mais incólume
Sem aquela estória de sentir o coração.
E eu, meu bem, já morri
Não me procures mais
Já me fui, corri
Para além do cais.
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Soneto da carne
Das pessoas, gosto das que voam.
Suas asas fantásticas de fadas,
Serafins ou querubins como queiram;
Disfarçam a ajuda nas escadas.
Das pessoas, prefiro aos ditos loucos.
Varridos ou não de onde vivem poucos
A verdade está por lá, não é fácil,
Encontrar em ambiente tão grácil.
Aprenda a voar por sobre as coisas ditas.
Seja louco varrido da pasmaceira
Que é a vida com reta certeira.
Quiçá encontre afinal o que gostas
Ser com suas próprias abas sem beira e
Sonhar de olhos abertos pelas frestas.
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domingo, 28 de julho de 2013
Simples
A sorte trouxe amarguras
Do fundo onde te seguras
Beber a água do futuro
É mais que saltar um muro.
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domingo, 23 de junho de 2013
HORAS QUE SINTO FALTA DE MORAR EM BRASÍLIA
(ONTEM)
Havia uma festinha que se transformou numa boate com lasers verdes, estroboscópios, e o "escambau" lá pela meia-noite de ontem para hoje (acabou há pouco às 5:00 h) no prédio quase em frente ao que eu moro. OK, vá lá, todos temos o nosso grau de tolerância, mas "aquilo" estava alto demais, a gritaria e os gritinhos (verdadeiros urros) era demais. Tudo demais. Uma da matina resolvi ligar para o 190. Um rapaz não muito solicito me atendeu. Após ele entender o que eu estava a reclamar, pediu-me o endereço da festa.
- É na Rua Silva Jathay, entre as ruas Silva Paulet e José Vilar aqui no Meireles, e...
- Onde?
- Siva Jathay
- Referência?
- (?)
Para quem é fortalezense não conhecer tal localidade é o mesmo que não saber onde fica a W3 ou o Eixão em Brasília, ou ainda a avenida Paulista em São Paulo. (...)
- Aterro da Praia de Iracema pode ser?
Já tendo uma certa noção onde aquilo iria parar, enquanto o som tocava dentro da minha hipófise.
- Senhor preciso saber o endereço!
Com a maior calma:
- Rua Silva Jatahy entre as ruas...
- Prédio ou casa?
- Prédio.
- Número?
- Não tenho certeza, não dá pra ver, mas dá pra ouvir, venha ao meu endereço que o prédio fica do outro lado.
- Como a viatura vai saber onde fica o local?
O som de tão alto já estava dentro do aparelho de telefone celular, talvez ele até dançasse e, vai saber...
- Basta a viatura vir aqui, eu os acompanho, preciso dormir, e tem um hospital para doentes cardíacos aqui do lado, e...
Veio então o inacreditável:
- Senhor. tenha calma.
- Eu estou calmo.
- Eles estão apenas dando uma festinha, quem nunca deu uma?
- ...
- Só vai acabar com a alegria dos outros.
- ...
Pensava no absurdo e o que responder ao absurdo. Fiquei mudo.
- Senhor?
- Quero lembrá-lo que esta ligação está sendo gravada. Assim espero. Pelo menos isso. E o que você me responde é crime, igual ao daqui. Bem, como não há onde, nesta hora da madrugada, resolver nenhum dos dois. Peço gentilmente que se identifique com nome e inscrição ou que o valha da instituição a que pertence.
- Queéissomeusinhô! Calma.
- Eu estou calmo e aguardando.
- Espere um minuto, por favor.
(musiquinha irritante de espera, acho que era Djavan)
A ligação caiu.
A festa continuou.
Estou acordado desde ontem.
E, neste instante, o que mais sinto de tudo isto, é saudade de morar em Brasília.
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sábado, 22 de junho de 2013
Só pé
Pé para fora
Pé para dentro
Pé na bunda
Mão na face
Mãos são bonecas de fincar os dentes
Quebra daqui
Conserta dali
Tem-se o brinquedo
Pés são aranhas treinadas
Vão pra lá
Vão pra acolá
Tem-se o brinquedo
Tic tac
Tic tac
...
Trocam-se as mãos pelos pés
Tic tac
Tica tac
...
Há desbunde na Terra do Sol!
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sábado, 11 de maio de 2013
Chame do que quiser
Uma penumbra tomava conta do
quarto em que morava. Uma cama, um ventilador, uma mesa, um computador e sua
cadela. Apontava que a noite já vinha e lembrava que passara o dia em seu
quarto buscando algo em que se apoiar. Talvez um telefonema, um amigo, um
familiar, alguém que pudesse conversar e passar um tempo do tanto tempo sozinho
aguardando muitos tempos. O tempo da agorafobia; da quimioterapia; da aposentadoria
por invalidez; da dor nas articulações passar junto com os efeitos colaterais da
quimio; daquelas coisas que não adianta espernear há de aguardar, parado, com
paciência, o tempo que for. E já vai uns dez anos até então. A alegria de ter
amigos e ir a festas de família estava em seus retratos guardados na cabeceira
da cama. Nada se movia além de si e sua cadela, atenta a cada movimento. Fez um
último, a cadela ficou.
domingo, 5 de maio de 2013
Rosa e carvão
Poderia me dar a mão
ou em silêncio ouvir minha voz
saiu-me algo tão atroz
que não me restou o chão
__________ viva teu mundinho cor-de-rosa
E o carvão? Fiz desenhos com calma
Tu dentro de uma cova rasa
enquanto brincavas de salvar a alma
__________ só não chegues mais perto
Pois te torro os olhos cegos...
por muitas vezes te chamei de irmã
não passas de um monte de pregos
que a tua crença mostre os caroços da romã
_________ és apenas mais uma joça
Que destroça!
sábado, 27 de abril de 2013
Marionetes
A vida brinca contigo
De um lado pro outro
De cima para baixo
E vice-versa
A vida tem vida própria
Pensamos que ela é nossa
E que podemos fazer o que quiser
Quando bem entender
Não é assim, ó marionete
Sim tu és gente
Um cotonete
Pode ou não ser usado
Introduzido raso
Ou mais fundo
Mas a mão que segura
A haste não é tua
É da vida
Que não é tua
E se pensas que a possui
Ela te afunda forte
Como para te mostrar
Quão insignificante és
Parece uma criança birrenta, a vida
Lide com ela desta maneira
Esperando momentos de alegria
Ou berreiros que te enchem os olhos
O camelo apenas procura uma sombra
Vá atrás da tua
Antes que o sol te arranque os olhos
Em brasa
E teus pés não te levem
A mais nenhum lugar
terça-feira, 23 de abril de 2013
Escaravelho
Não há dor que possa consumir-te a ponto de não conseguir
expressá-la
[apenas a dor da alma
sentir uma comichão
dentro dessa sutileza
solidão faz te ferir
beleza se vê ao centro
[corta a pele que
cresce
Não adianta se relacionar, pois já é um
monstro medonho epidérmico
terça-feira, 9 de abril de 2013
Ousadia
tela do acervo do autor
Escravo desse seu andar não sei mais como voltar
Até as estrelas brilhantes ajudam meu versejar
Norteando a nau pelo mar das letras que curam
Com o horizonte mordendo olhos e os torram
Ouso escrever este verso para quiçá me livrar
Desta inebriante fantasia que o tempo possa ajudar
Pois que de cá não vejo mais o que me apontam
Talvez esta ousadia e o tempo, ó fantasia, me faltam
O trem já vai da estação se é vem ou vão
Que se decida por algo que o valha da prisão
E que os versos deste poema possam abrandar
A intrépida aventura nesta vida de se libertar.
domingo, 7 de abril de 2013
Ladrilhos
fotografia de Cristiano Melo, 2009
De todo o tempo que o tempo me deu
Tenho a meu favor aquilo que não sei
Do contrário como poderia amar meu rei
Encantado na cúpula da ignorância do meu eu
Se a vida pode te ensinar algo ou alguma coisa
Melhor seria sentir os espinhos na carne
Ao subir a ladeira sem perder a alegria
Ou descer do palco sem nenhum aplauso
Tempo e vida nos tem como uma coisa
Sem segurança que não te escarne
Do que desconheço meu rei é uma fantasia
Quando rolo ladeira abaixo e caio no cadafalso
Sair de lá cortado e com restos de espinho e dor
Continuar subindo a ladeira é o que se chama esperança
Já não tens mais a desculpa do não saber e pudor
Enchas o peito, esqueça o rei e saia da fumaça.
sábado, 30 de março de 2013
Sal
Parcel epitelial sangra águas salgadas
Quarenta bitucas no cinzeiro de cristal
Fosse fera, fosse ferido, exala mortal
Gosto de vaidades esvaídas fulguradas
Pó de pele pelo chão com tom escarlate
Beira a idade para cada cidade tragada
Mais um café? Razão em vão clemente
Foram-se pedaços salgados numa coçada
Sentimento é algo engraçado e perigoso
Quarenta baganas no cinzeiro de metal
Veias carregam o esgoto daquele moço
Sentir é sinônimo de existir num lamaçal
Quarenta anos de idade e muita saudade
Tremulantes vivas com mais um pedaço
De epitélio salgado saído daquela metade...
Da outra se transfigura o pé descalço
Pés. Algo importante que não se é recordado
Fincado acordado, com eles poderia quem sabe?
Ir para longe do mar revolto sem que se acabe
Quarenta cigarros no pacote não guardado
Espelho dedica realidade. Quem ele mostra afinal?
Fosse adjetivo, advérbio ou até substantivo
Quarenta fita irreal a mão ao rosto fatal
Do que se foi é visto ali ilustrativo
Pode doer ser feliz e sentir alguma vez
Os corais são lindos e de todas as cores
Com cuidado não se corta fálico a viuvez
Quarenta anos de idade com o sabor de dores
Esvai o sal do mar a cada baforada
Poder-se-ia ser diferente, ou não!
Fosse o que fosse a sorte escancarada
Deixava o sal ir-se junto com a razão.
sexta-feira, 29 de março de 2013
Fantasia
Pensara em terem me arrancado as asas
No chão atrelado sem conseguir alcanças as nuvens
Pés presos e mãos estendidas, dor nas costas rasas
Tentava escapar como de costume das fuligens
Qual não é o estranho som da solidão
Quando despertas de uma fantasia
Não me cortaram asas nem alegria
Nunca as tivera quando me veio a razão
Não pude mais voar
Engolir fumaça era o que me restara
Se é que havia voado para algum lugar
Imóvel chorando o penar do agora...
A triste razão, se a tenho é porque nunca tive asas
Solitário, hermético, apático, assustado e, no chão!
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
domingo, 13 de janeiro de 2013
Tudo se partiu
tela de Ialovich, acervo pessoal.
Desde a tua partida aos gritos de pronto
Algo se partiu em mim.
Fragmentos de recordações
Que além de pranto
Arranhou algo em minha alma,
Em sua parte mais fina.
Mas que sina!
Foste embora aos berros
Enquanto fiquei aos prantos
Sem saber dos porquês
Dos motivos e sentido daquilo...
A confusão misturou horror e censura
Autoflagelo e culpa sem conhecimento.
Brotou-se a raiva
Irrompeu o ódio
Explodiu-se o que se morria ali.
Morte sem fala
Ida sem despedida
Mente ferida.
Tristeza que surge ácida
Corroendo sem trégua o estômago
Que já não consegue engolir.
Pois nada desceu ou descerá
Daquilo que nem sei
Entalado na garganta.
Apontando à memória e lembrança
Já sem esperança
Que tudo foi partido.
E eu transmutado em anoréxico
Conduzo os dias depois do bater a porta.
As chaves jogadas ao chão
Lágrimas de desespero em vão;
Sigo num buraco já feito
Por quem não conhecia de fato.
Se tenho algum lampejo de alegria
Esta, fraca, me conduz ao outro dia
Em que não há mais nada
Além da agonia.
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