A letra A, orgulhosa por ser um artigo definido que ao indicar a si mesma, vira uma poesia concreta, dialogava com outra letra que se orgulha por também gerar a mesma situação: O artigo O.
-Tenho certeza que sou mais utilizada, pois defino os substantivos de gênero feminino.
-De que adianta ser mais utilizada se eu defino os substantivos masculinos e, assim, tenho mais poder...
-Poder? Ora, faça-me o favor, isso é machismo...
-Machismo? Não! Sou realista e depois machista é você!
-Você quem disse determinar gêneros primeiro que eu...
-Ah que ladainha mais sem futuro, sou a A, começo do alfabeto e você é só o O!
-Por que sou só o O?
-Porque tá lá no meio do alfabeto...
-Mas nós dois juntos, somos os artigos definidos, você não é melhor que eu.
-Bem, podemos discutir quem é mais importante se quiser, e eu lhe provo.
-Ai que preguiça!
-É sempre assim, chamo para discutir e você foge...
-Não sou casado com você minha filha, deixa de ser chata.
-Casados? Não mesmo. Sou simplesmente melhor que você.
-Ai ai... Como é que uma letra se sente melhor que outra?
-Peraí, não traga os artigos indefinidos pra essa conversa.
-?
-Não sou “uma” letra, sou “A” letra.
-Desisto, sabe... Você é muito egocêntrica, vai lá pro começo do alfabeto vai, que é que tá fazendo por aqui no meio?
-Volto já, só quero que me dê razão?
-Dar-lhe razão? Você é chata, egocêntrica e louca...
-Sou não, ó!
-E não leva meu nome em vão!
-Mas...
-Volte já pro seu canto, o escritor já vai começar a nos agrupar.
-Quem disse que é um escritor e não uma escritora?
-Ai ai, honestamente, você já me tirou do sério, se não fosse do gênero feminino...
-Que iria fazer? Bater-me? Seu gordinho... Sua bolinha!
-Ora, não me provoque, sua pernuda.
-É tenho pernas mesmo e posso lhe esmagar.
-Chega, vou rolar em cima de você.
-Vem, seu gordo!
E a guerra dos sexos entre as letras A e O continuava, e das suas brigas violentas, surgiram manifestações de todo o alfabeto que até então estavam calados e pasmos, houve quem concordasse com A ou com O, e o alfabeto todo começou a brigar. Desta briga surge então mais um escrito, uma estória, que foi contada e recontada ao longo de eras, sobre as letras que iniciaram uma batalha, mas findaram em paz, talhadas num papel, conjugadas com as outras letras e acabou por inspirar um conto ao escritor que a tudo presenciou, na leitura quase audível desta confusão, no seu hábito de ler.
Nesse instante, sua mulher acordou e começou a argumentar que ele não fazia nada além de ler e escrever e que viajava muito no mundo das letras, que precisavam ser mais objetivos para poder viver no mundo real. Começou então uma nova discussão. E a guerra foi ouvida no mundo das letras, saíram então os mediadores, imbuídos de trazer paz a esta estória entre os mundos, literário e humano, as letras F, I e M.
ótimo texto Cristiano! Eu acho muito bacana a maneira do teu brincar com as palavras... E por aqui as letras estão em evidência, bem legal!
ResponderExcluirAbraços