Ao nascer era homem:
Pra descontentamento do pai,
Pra indiferença da mãe.
Aos cinco anos de idade jogava xadrez.
Era orador da turma da alfabetização,
Encenava peças de teatro.
Na adolescencia pendia o primeiro beijo:
Pra descontentamento do pai,
Pra indiferença da mãe.
Aos trinta anos de identidade o mundo lhe era acessível.
Era um dândi crítico baudeleriano,
Amigos e inimigos o rondavam feito moscas ou fadas.
Na maturidade era independente:
Pra descontentamento do pai,
Pra angústia da mãe.
Aos quarenta anos de alteridade a carreira lhe tinha chegado.
Anestesiado na vida que julgava sua,
Sem um afeto real ao seu lado.
Na terceira idade era amigo do sofá:
Pra o jazigo do pai,
Pra loucura da mãe.
A vida mediana o levou ao fim.
Corta a carne, fundo, pra lavar a alma,
Supurada, necrosada desde o nascimento.
E mais um, de vida limítrofe no meio,
Em meio aos seus pares disformes,
Não sabem ascender, e sim, cadente cair em si.
Qual o sentido da vida?
Responde o homem mediano em agonia:
Não tem sentido!
Cristiano Melo, 01 de Outubro de 2009.
Perfeito ritmo,perfeita história.Parabéns.
ResponderExcluirVocê sumiu!Como tem passado?
Um abraço.
Ahhhh, Cristiano!
ResponderExcluirMelancolçia típica de dândi. O sentido da vida é viver e ponto!;)))
E olha que tem gente dando a vida para ter uma vida.
Get a life!;)))
Ah, se esse sujeito tivesse se despreocupado de todos... Seria a angústia de uns e a aflição eterna dos outros!
ResponderExcluirE as respostas sobre os sentidos só ele teria.
De toda maneira, este é um belo retrato da vida mediana. Vou pendurar na parede.