quinta-feira, 23 de julho de 2009

Il y a quelque chose?

Nascer, ter o cordão umbilical cortado,
Sentir a gengiva romper ao dente pontiagudo,
Engatinhar e fazer as concavidades da coluna
Cair e levantar, ereto com hematoma.

Compreender os sinais e seus significados,
Do adulto que ri, do que enfurece, do que bate,
Coletivizar com outros estranhos, produção em série
Aprendizado escolar, confusos alfabetizados.

Os dentes começam a cair e outro mais pontiagudo
Toma o seu lugar, ninguém para explicar
Mas sempre um adulto para lhe humilhar.
Tire seu dente sozinho, é o ensinado.

A adolescência é das mais complicadas,
Não se tem referências, nem paciência
Cabeça na parede, batida pra compreender
O que fazem os adultos além de beber?

Cobranças de seu desempenho escolar,
Não adianta pensar em algo além do vestibular
Que seja algo com status, batem os adultos
Cobertos de razão mesquinha, não solidários.

Dizem que o amor permeia até aí o laço familiar,
Agora, são seus afetos pessoais, suas conquistas,
Profissionais e amorosas, casar e filhos ter,
Refletir criticamente não é encorajado.

Adulto se torna? Com medos e ansiedades
Sem saber de onde vem, nem o que fazer
Além de ficar quieto na rede, com o sorriso estampado:
Sorria, a vida é bela! Dizem...

A mulher, da mesma escola, lhe trai,
O trabalho, não escolhido, lhe adoece,
A vida que dizem, não é a sua.
É o caso de se perguntar: quem sou eu?

E a vitrine de alguém bem sucedido,
Finalmente se parte, doenças surgem
Dinheiro nenhum cura a ferida
E a sua única amiga: a morte.

Esta é a sina do homem mediano,
De classe média, que classe?
Tomar comprimidos para viver,
Ou, finalmente descansar...

Cristiano Melo, Julho de 2009

12 comentários:

  1. Gostei muito.quando digo que a sua poesia é metafísica é porque você não faz poesia para brincar com a palvra e sim par trazer reflexão-como um 'speculum mundi'.gosto muito da sua poesia,e digo isso como leitor,não como professor de literatura.Um abraço.

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  2. Nossa que bom J, me alegra muito a sua definição da metafísica em meus poemas.
    E és professor de literatura? Admiro muito seu trabalho, o de professor de literatura.
    Muito obrigado
    abraços

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  3. Concordo totalmente com o James, e fui refletindo em rápidos segundos (eu sou rápida na reflexão mesmo) enquanto lia o poema. Gostei, me entristeci e sorri num poema só. Parabéns.

    Beijinhos

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  4. Sem idéias ou palavras para comentar, sugiro apenas uma música: Aquarela

    "Um menino caminha
    E caminhando chega no muro
    E ali logo em frente
    A esperar pela gente
    O futuro está...

    E o futuro é uma astronave
    Que tentamos pilotar
    Não tem tempo, nem piedade
    Nem tem hora de chegar
    Sem pedir licença
    Muda a nossa vida
    E depois convida
    A rir ou chorar...

    Nessa estrada não nos cabe
    Conhecer ou ver o que virá
    O fim dela ninguém sabe
    Bem ao certo onde vai dar
    Vamos todos
    Numa linda passarela
    De uma aquarela
    Que um dia enfim
    Descolorirá..."

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  5. suas palavras são sempre belas e pungentes, meu bem. (p.s: vem pra fortaleza!) beijo.

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  6. Cris,
    Minha xará,
    Misturar sentimentos num mesmo poema é uma alegria ao autor. Fico-lhe muito grato com suas palavras e seja bem-vinda neste espaço.
    beijos
    PS: rápida como um foguete?rs

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  7. Caio,
    Que bela música, uma das mais belas do Brasil, ao meu ver, casa bem com o poema...Sensibilidade é a palavra aqui em seu comentário.
    obrigado
    abração

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  8. Di,
    maninha, obrigado pelas suas generosas palavras e sobre voltar a Fortaleza, só o tempo dirá... mas quem sabe? podemos até escrever e publicar juntos.
    milhões de beijos

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  9. Também sou um sujeito que forja(ou) seu ser na filosofia - na metafísica - e no esoterismo.
    Gostei muito da abordagem ... a rigor, todos os seres mergulham no conteúdo texto
    A epistemologia - a semiótica - a linguagem dos sinais , o mundo exterior , o mundo oculto , enfim .... um excelente trabalho !

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  10. Ivan,
    Você mergulhou mesmo no poema, e o seu comentário ficou exuberante. Quase um poema pre-pronto, que tal desenvolvê-lo?
    Somos "malucos"? OU a normose é uma doença disseminada?rs
    Adorei mesmo seu comentário
    abração meu amigão do Sul

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  11. Mais uma ótima poesia Cristiano! Quado falo que tuas poesias são ótimas, não é para ser repetitiva ... Mas elas dão vida as palavras, parecem que tomam forma, chegam a gritar sozinhas!
    Abraço

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  12. Tita,
    nunca pensei que vc estivesse sendo repetitiva, muito pelo contrário, gosto muito qdo afirma isto, fico até achando que, talvez minha poesia tenha algum significado e, seu elogio, fortalece isto em mim, muito obrigado, viu?
    Neste poema, acho que consegui dar vida às palavras, numa sequência do desenvolvimento do homem mediano...
    abraços

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