sábado, 31 de julho de 2010

Hipertensão

Acordado após um belo sonho
Vira na cama à procura de algo
E encontra o vazio.

Desperto e um arrepio medonho
A cama era um caixão largo
O nada preenchido tardio.

Fora feliz e alegre,
Fizera bons amigos,
Tivera filhos e amante.

Quase não adoecera em febre,
Galgara facilmente cargos,
Poupara dinheiro em conta corrente.

Uma vida simples e comum.
Ser ordinário moldado à sociedade
Nada dele jazia ali, só o corpo.

Começa então a dor de um,
Depois outro e, logo, todos em paridade
Mexeram o inerte ser junto ao trapo.

Trapo em dor que viria a ser o homem,
Desconjuntado como um bebê,
Começaria a aprender a andar.

Teria mais uma chance, dada ontem
Momento em que tentara se conter,
Viveria sua própria vida, não sem sequelar:

Hipertensão!




Cristiano Melo, 01 de Agosto de 2010.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Mentiras

"As mentiras despidas de qualquer imaginação são as mais verdadeiras. 

Mentem em simplicidade, afirmando simplesmente, enquanto mentem."


Letícia Coelho
Editora Novitas

Morte

(Interior da Roda da Vida, tanka do budismo tibetano: a serpente, o galo e o porco simbolizando
desejo, falta de controle de si e ignorancia, dando movimento ao ciclo)
 








Desde a fecundação estamos mais próximos da morte.
O medo acompanha o ser desde seus primórdios,
Não há o que fazer da biológica sorte
Alguns sábios a gozam sem remédios.

Há mortes em vida, da mãe que perde sua cria,
Da violenta consciência da ilusão,
Do calvário exposto da mazela social,
Da falta de solidariedade de um beco fraterno.

O ciclo já é fechado em circuito
Nasce e morre, a despeito de seu medo
E angústia, pressão que aumenta sem intuito.

Impressão dissolvida da alma no feudo
Tempo impassível a descolorir o morto,
Jaz a morte para um recomeço estrelado.

Cristiano Melo, 30 de Julho de 2010.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Veneno



Vaso venoso periférico sentencia
Os mais calibrosos tentam um desvio.
E o veneno indiferente circula,
Levando ao centro sua química configuração.

Desde a picada e sua inoculação,
Fígado e rins tentam coibi-lo
Danos que, se reversíveis, deixarão sequela.
O corpo assiste, passivo, sua falencia.

A cobra que pica com palavras
Afeta em graus variados o moribundo
Frases transformadas em veneno para cabras.

Cabra macho que cai nauseabundo
Hipertensão, depressão, angústia, larvas!
É o ganho de sua ingenuidade pelo mundo.


Cristiano Melo, 27 de Julho de 2010.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Mente humana

Mente humana
Tic,
Tac.

Humana mente
Tic,
Tac.

Mentira demente
Tempo emana
Trim!

Alarde
Desperta
Qual é você?
Mente ou demente?!

domingo, 25 de julho de 2010

Sábado




Há dias em que sua cor frugal resplandece,
Em meio à indolência da tarde de um sábado.
Mesmo com suave cansaço, me beija e desce,
Amor que cresce no seco cerrado.

Há dias em que sua cor esmaecida obedece,
Passividade em se largar na colcha de retalho,
Como orvalho precipitado numa manhã de sábado.
Respeito pela diversidade sensata e doce.

Vamo-nos para o dia,
Encantar a cotovia,
Amassar o lençol.

Construamo-nos em prol,
Pele nova que sibila
Sons no sábado ao Sol.


Cristiano Melo, 24 de Julho de 2010.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Natureza cinzenta




Céu azul de nuvens brancas,

Folhas caídas removidas ao vento,

Silêncio na rua e estrada.


Ar rarefeito e entorpecente,

Fagulhas que aguardam o fogaréu

Paralelepípedos sabiamente inertes.


O momento certo para ser o que se é

Mostrar ao mundo sua verdadeira face

Junto aos elementos terrestres.


É chegada a hora, camarada

De soltar fogos ao céu,

Sem a sapiência das pedras.


É chegada a hora, desvairada

De atear fogo ao seu mundo

E dele viver de cinzas.



Cristiano Melo, 23 de Julho de 2010


quinta-feira, 22 de julho de 2010

Amizade

Para Érika e a quem mais couber, aos verdadeiros amigos que iluminam nossos sorrisos!

Há anjos, disfarçados de humanos

Que entram em nossa vida sem alarde

Mas logo se faz amizade

Durante as sequelas dos anos.


Há demonios, disfarçados de anjos

Que entram em nossa vida com alarde

Insinuam uma amizade de arcanjos

Até apunhalar sua amizade.


Diferenciá-los é complicado,

Como o é aceitar o metal enferrujado

Enterrado até a sua alma,

Enquanto seu real amigo pede calma.


A sorte é aleatoria, pode-se contar a estoria

Em particular de uma grande amiga

Que me fez acreditar que vale a trajetoria

Em tempos imemoriais de tão antiga.


Suas asas de anjo afagam minhas feridas

Sua palavra contundente, doce e amarga

Conduzem-me a um mundo de fadas

Humanas coloridas de uma doce amiga.


Serei seu amigo enquanto me for permitido,

Limitado pelo tempo, ou outra estoria...

Mas, com você, sinto-me protegido,

De toda aquela conhecida escoria.



Cristiano Melo, 23 de Julho de 2009.



quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sociedade ou pocilga?


Sociedade de porcos com dentes afiados,

Cauda alongada e patas de elefante,

Focinho empinado e pele perfumada,

Boca arregaçada em medonho sorriso.


Escarafuncham na pocilga agitados,

Hora da “xepa” e encontrar um tomate,

Estragado e podre, conservado em calda,

Tanto faz ao suídeo em seu paraíso.


Renovam seus parceiros, em transe, alucinados

Desovam o sentimento descartável do abate

Enquanto, sorrindo, desafiam a estrada.

Por um momento, antes do fio da navalha, caído.


Pensa, sou diferente, não sou porco alienado,

Meus amigos me alimentam quando não tem abacate

Afinal sou de meu gueto camarada

E não posso fugir de minha doente natureza, puído.


Cristiano Melo, 21 de Julho de 2010



terça-feira, 20 de julho de 2010

Insensatez doidivanas



Laudanizado pela amorfa esfera epigeica
Fálica e acefalina, pusilânime estoico,
Abre asas sobre a jocosa ética
Certame infalível e verborrágico.

Estupefato de sua denegável aleivosia
Rubra a face desmedida em verdade,
Furta da presa a alma lealdada com hipocrisia,
Funesto corteleiro da improvida amizade.

Se clama ao amor o escudável ludibriante,
Grita ao desafeto tal feita doentia.
Horda de palavras melotômicas adiante.

Da responsabilidade não se pode fugir em quantia,
No futuro aguarda a esfinge galante.
Jus alçada da sorte que lhe virá em serventia.


Cristiano Melo, 20 de Julho de 2010.

Torpes Afetos



REPUBLICAÇÃO


Atraio quimeras!
Inspiro doces palavras,
Torpes afetos.

Pensamentos inconsistentes
Criam-se e se fortalecem
Na cabeça dessa fantasiosa medusa,
Cobras ludibriosas!

Imano doenças,
Acaricio doentes,
Enlouqueço!
São permaneço
Com esforço.

Desde infante,
Loucos insanos
Tropeçam em meu carinho,
Parabolica de dementes que me tornei.

Não seria diferente dessa vez,
O mesmo mecanismo:
Aproximação,
Dedicação,
Ilusão,
Traição
Da verdade pirada
Nunca existida...

Ave mentira!



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