Nascer, ter o cordão umbilical cortado,
Sentir a gengiva romper ao dente pontiagudo,
Engatinhar e fazer as concavidades da coluna
Cair e levantar, ereto com hematoma.
Compreender os sinais e seus significados,
Do adulto que ri, do que enfurece, do que bate,
Coletivizar com outros estranhos, produção em série
Aprendizado escolar, confusos alfabetizados.
Os dentes começam a cair e outro mais pontiagudo
Toma o seu lugar, ninguém para explicar
Mas sempre um adulto para lhe humilhar.
Tire seu dente sozinho, é o ensinado.
A adolescência é das mais complicadas,
Não se tem referências, nem paciência
Cabeça na parede, batida pra compreender
O que fazem os adultos além de beber?
Cobranças de seu desempenho escolar,
Não adianta pensar em algo além do vestibular
Que seja algo com status, batem os adultos
Cobertos de razão mesquinha, não solidários.
Dizem que o amor permeia até aí o laço familiar,
Agora, são seus afetos pessoais, suas conquistas,
Profissionais e amorosas, casar e filhos ter,
Refletir criticamente não é encorajado.
Adulto se torna? Com medos e ansiedades
Sem saber de onde vem, nem o que fazer
Além de ficar quieto na rede, com o sorriso estampado:
Sorria, a vida é bela! Dizem...
A mulher, da mesma escola, lhe trai,
O trabalho, não escolhido, lhe adoece,
A vida que dizem, não é a sua.
É o caso de se perguntar: quem sou eu?
E a vitrine de alguém bem sucedido,
Finalmente se parte, doenças surgem
Dinheiro nenhum cura a ferida
E a sua única amiga: a morte.
Esta é a sina do homem mediano,
De classe média, que classe?
Tomar comprimidos para viver,
Ou, finalmente descansar...
Cristiano Melo, Julho de 2009