ELE E ELA
Entrava em seu condominio pela porta de vidro temperado quando ouviu uma voz ao longe gritar seu nome, dava para perceber que era uma voz conhecida, mas de longe parecia apenas um megafone estridente que lhe chamava. “Terêncio!”, repetia a voz enquanto buscava em meio aos transeuntes identificar quem o chamava. Logo as mãos que agitavam ao vento fizeram-no reconhecer Maria, sua ex-alguma-coisa. Havia três anos de separados sendo uns dois que não se falavam, esquisito que foi a separação, já que ele achava se tratar de um golpe do baú, uma vez que ela era a empregada da casa de seus pais, e, trazia pelo braço, um garoto de uns dois anos de idade. Pensou rápido: “caralho só faltava essa agora, ser pai”. Não esperou para saber, virou as costas e entrou no prédio.
NÓS
Foi sua voz que me confortou ao telefone, quando tive medo. Receio de que tudo aquilo pudesse ser uma fantasia desvairada carnavalesca de férias de verão, apesar dos dois anos de caso. “Mas e se...” repetia ansioso como se o que viesse dela pudesse me confortar, e confortava. Sua voz era atenciosa e via seu lindo sorriso rasgar a comissura labial, com aquela covinha no canto da face, em pensamento, pois não era videofone e sim um aparelho telefonico com fio, de uma central telefonica residencial. “Mas como é que...” indagava choroso àquela oitava maravilha enfeitada de efeitos e tons estrelares. Sua prestimosa atenção me embalava e afastava do temor que me crescia no peito. “Mas se ele...” interrompido que fui ao ouvir um estalo do outro lado da linha, um soluço preso à garganta me deixou sem palavras, e um gemido ecoou ao meu ouvido, “ele a matou!”. Meu receio cedeu ao pavor da certeza: as reticencias se tornaram exclamação! Não pude nem sequer ligar para a polícia ou a uma ambulancia, pois ele, o marido enciumado, já aparecia do quarto de minha patroa e descarregava mais três tiros de seu tresoitão. “Morre também seu desgraçado! Se tivesse mais bala ainda matava aquele menino lá de baixo junto com aquela vaca da Maria...”. Apontou para a têmpora e apertou o gatilho uma vez mais.
ELES
Assustados com o barulho dos tiros, porteiro, Maria, seu sobrinho de dois anos, alguns moradores subiram ao apartamento de Terêncio. Bateram à porta e só ouviram mais um estampido e silêncio. Maria, a ex-alguma-coisa, ainda perplexa, pois não esperava ver Terêncio depois de dois anos, e nem queria saber onde ele morava, de tanta humilhação que ele a fez passar, muito menos presenciar aquela tragédia. Chorosa, tentou explicar ao filho de seu irmão porque seu pai estava morto na primeira vez que ela o levara para conhecer seu local de trabalho.
Cristiano Melo, 15 de Dezembro de 2008.
Gosto das suas histórias, são bem encadeadas.
ResponderExcluirbeijokas
Querido Principe dos Poetas! Para sempre!
ResponderExcluirAdorei teu texto com um desfecho incrivel!!!
beijos meus!
História triste, muito boa idéia Cris
ResponderExcluiragora lá no meu respondi sobre as chaves nas portas...
e aqui vai um pouco de Nick Drake que cheguei a ouvir em Londres, anos e anos atrás....
http://www.youtube.com/watch?v=y9HRo-9mqrQ
bom domingo!
Oi Angélica,
ResponderExcluirgosto muito de seus comentários e visitas.
Para mim é um tremendo elogio, vindo de quem escreve com a alma como vc.
beijos
Cê,
ResponderExcluirsempre carinhosa com esse aprendiz de escritor.
Fico-lhe muito grato, volte mais vezes
bjos
Cintia,
ResponderExcluirObrigado minha querida, respondi por lá também.
beijos