Tua alegria mudou Maria Ninguém,
Por trás da membrana cinzenta de teus olhos,
Dos lábios de cor violácea, disformes,
E corpo emagrecido, com as salientes costelas.
A vida não te sorriu, Maria...
A sociedade te pariu e te desajuntou
Tua realidade é outra, das muitas fomes
A tua é sórdida com suave brilho de estrelas.
Para onde ir, não é Maria?
Aos braços de teu Zé Ninguém?
Para ele espancar tua alma com fórceps?
Enfiar pela tua goela a fumaça maldita?
Onde está o céu, deve ser uma questão,
Quase nunca ou sempre indagada em teu travesseiro.
Não é Maria? Mas mesmo a fome de teus filhos,
Não te aguçam a responder tais perguntas.
Está enferma Maria, muito doente!
E esta doença, é contagiosa e fatal.
Os ricos que te temem só sustentam teus males
E te deixam confusa com sorrisos de predador.
Shangrilá, Céu, Nirvana, Passárgada...
Paraísos fora de tua realidade, ó Maria,
Quais teus sonhos, tuas motivações?
Teu filho quer carinho, mas dá o pouco que tem
Ao Zé que te acorrenta e que devolve na mesma medida
As surras mútuas em teu mundo, Ninguém.
Tenho compaixão de ti e dos teus semelhantes,
Mesmo que tenha me sequestrado, furtado e espancado
Na minha alma maculado um furo.
Queria abraçá-la Maria, em meus braços te contar
Da vida que poderia ser diferente,
Dos sonhos que poderiam existir aos teus filhos.
Mas teu vício jocoso consome voraz
E só tem ouvidos aos Zes e Marias,
Nem a mim nem aos teus pequenos filhos,
Consegue ater-te em qualquer atenção.
Talvez por saber de teu destino:
Mais uma cova rasa!
Jazigo das Marias Ninguéns.
Cristiano Melo, 10 de Maio de 2009.
Maria não foi Maria ninguém!
ResponderExcluirFoi uma vítima e algoz de uma sociedade que não consegue lidar com toda a complexidade pós-moderna.
Maria ninguém teve um nome. E seus filhos tem o nome dela.
Se há uma Maria ninguém é porque há O Zé ninguém: aquele ser mesquinho que passa a nos dominar, preferir segurança a felicidade, preferir a vantagem para si que a justiça.
Foi isso que Reich disse qdo escrveu Escuta Zé Ninguém
O homem comum, que se conforta no falso
aconchego de que há um estado maior cuidando de si.
O homem incapaz de ser dono de si próprio, aquele homem que me lembra agoora uma frase de john lennon:"Eu tenho o maior medo desse negócio de ser normal"
Essa "Maria" foi alguém, Cristiano
E a cova dela não é rasa. É funda em mim.
Ela poderia ser uma filha minha. Sua irmã. Seu pai, meu irmão ou sua tia.
Maria tudo de novo
Bea,
ResponderExcluirInterpretas perfeitamente a inspiração de meu poema.
Concordo em tudo o que vc escreve em seu comentário e fico muito grato em fazê-lo com tanta propriedade.
As partes do poema em que vc destaca, são críticas propositais, e vc as pescou como um gavião de mente aguçada!
Inspirei-me mesmo no "Escute, Zé Ninguém" de Reich. Acho que fica um pouco claro.
Como Lenon, tenho receio de pessoas que se imputam o rótulo de normais, são esses mesmos, que cavam covas rasas, para pessoas que insistam em questionar e ter suas próprias opiniões, sem se alienarem com determinado Estado, ideologia ou que o valha, para poderem pensar por si. Acredito piamente, que só desta maneira é possível haver transformação numa sociedade, estimular o pensamento crítico e a autonomia das comunidades em geral: CIDADANIA, sem falácia idiotalizante...
Muito obrigado pelo subtítulo ao poema: Maria tudo de novo!
Exato, Cris
ResponderExcluirMaria tudo de novo.
Zé Ninguém que Reich nos mostrou antes é esse politicamente correto burocrata de uma esquerda irrefletida, entre o radical e o delírio que se lança com voracidade no "ser normal'.
Ser como a mpidia, os formadores de opinião esperam que ele seja: não fume, pratique yoga, meditação, exercícios, faça parte de alguma ong em alguma favela bem f....e depois pegue sua Range hover e siga pra Ipanema comer um sushi com com sau^q e depois umas carreiras de pó só pra dar um hype!
Aquele jovem burgues que defende o traficante do morro contra o policial que se mata pra se formar em direito numa universidade - como todas estão - tomadas pelo pensamento condicionado medíocre dos ícones de 68.
zé ninguém não sou e nem é vc: que estamos nosmostrando contra essa conformidade, essa incapacidade triste de usarem a lógica, de perderem a preguça de pensar por outro ângulo.
é lindo ver Gabeira defender a descriminalização das dorgas? Eu acho brega, de mal gosto. Arrogante porque não escuta aquilo que qqer participante de NA diz. Droga é zero. E sem essa de vitimizar usuário. éc pra reprimir geral. quem usa estimula o tráfico.
em NA eles não permitem mesmo.
Mas, os "especialistas" em redução de danos - zés ninguéns de hoje - acham que compulsão é caso de moral, posição ideológica e não de saúde.
boa, Cris....Maria tudo de novo.
Essa que se foi ....foi. foi mal.
aqui vamos bem se continuarmos a chamar a atenção para a memética geral. Intragável.
Falei e disse!
e se me alonguei é porque aqui sinto que há pensamento ´serio, ética comprometida com a verdade doa a quem doer.
Parabéns pelo postado.
Novamente agradeço a sua desenvoltura em escrever Bea, ainda mais quando diz que se sente á vontade aqui neste espaço.
ResponderExcluirSobre ética, gosto de ressaltar que é uma questão de identidade, não existe uma ética linear horizontalizada, ou ideologizada, mas sim, a identidade do ser ético. Daí a ética ser a mesma para todos, é como não individulaizar uma coletividade, homogeneizar e pasteurizar os seres numa massa de Estado, numa ditadura ideológica, onde pianinhos repetem o que se diz e se produz...
Vale ressaltar que não são apenas os de esquerda, mas os de direita ou qualquer outro lado que levam seres a seguir suas idéias como carneirinhos arrebanhados para o cerco da sociedade perfeita sem atritos (puramente falsa). Os Zés Ninguéns estão à solta, sempre estiveram, forma eles que tocaram fogo nas "bruxas", pilharam bibliotecas e destruiram conhecimento "leviano", perseguiram e mataram seres "loucos" para os padrões da época, debocharam/debocham dos gênios da humanidade (é eles existiram/existem ainda bem).
Destes eu temo, sim temo, mas não posso viver enclausurado em meu castelo de cristal, pois correria o risco de me tornar mais um Zé Ninguém, por isso mesmo tenha dado tanto a cara a tapa, em reuniões e manifestações, onde mantive minha opinião, e por isto mesmo, nunca tenha arranhado poder algum, o que para mim é muito confortável, permanecer independente, com minha idéias... Ao ponto de nem delas, das idéias, ser preso a elas, talvez como cantava Seixas: "eu prefiro ser esta metamorfose ambulante..."
talvez tenha me alongado tanto, pois os temas são tantos e se entrecruzam em diversos pontos, numa rede que constrói nossa sociedade. E, esta rede, deve ser limpa sempre, com o que se pode e com o conhecimento saudável que se produz por poucos...
Talvez também por isto mesmo, eu seja um tanto pessimista diversas vezes e noutras tantas tão otimista!
Beijos e mais uma vez obrigado
Tudo de Novo!
Zé ninguém não teve carinho, instrução e fez de Maria refem, seu algoz, seu silencio , Maria cala a boca e aceita que tua cova já é preparada desde que se calou pra viver bem(mal também)
ResponderExcluirNem sei se entendi, mas mulheres se corompem, se mutilam para que em devaneio vivam no razoável.
Parabens Cris
Pena que textos dessa qualidade
ResponderExcluirDesse conteúdo reflexivo
Pairem num substrato restrito
A massa crítica da intelectualidade
Se contrapondo à massa manobrada
E o poder de transformação, aqui tão propriamente
citado
Fica por aí , falado
Só isso ...
Quiçá nosso estímulo seja o de perseverar
Inserir , insistir , difundir ...
Vejam as dificuldades que temos para promover cultura independente e alternativa ...
Exploramos "frestas" de tempo ...
Cavamos buracos nos prazeres mundanos para dedicar corpo e alma à poesia , à literatura ....
E ainda assim , vez por outra somos ....
Bem , deixa assim , não é Cristiano ??
Abraço e parabéns pelo excelente trabalho !!
Cintia,
ResponderExcluirO que é razoável? Penso que a razoabilidade é muito relativa, o que é dito razoável para uns não o é para outros, dentro da identidade de cada ser. Com relação a gênero, as mulheres são livipendiadas pelo homem mediano, desde o final dos tempos de Lilith... Mesmo assim, quando se fala em Zé ninguém, não há como não se falar em Maria ninguém, pois ambos consolidam o status quo vigente. Entendeste sim o poema, e adorei o seu comentário.
Um olhar sobre o feminino, fico feliz que tenha suscitado tal reflexão.
beijos e obrigado
Caro amigo Ivan,
ResponderExcluirseu comentário muito me alegra apesar de concordar que às vezes parecemos naquele velho trabalho de formiguinha... Mas tão pouco poderíamos ser diferentes, algo da essência da gente, que nos mobiliza e motiva, por mais que os percalços existam e insistam no nosso caminho. O trabalho do poeta sempre foi assim, e acho que não podemos esmorecer. Há de continuarmos imbuídos de produzir e divulgar os nossos trabalhos. É fato que fica circusnpecto a um círculo, uma rede de pessoas que compreendem a escrita de uma maneira mais visceral, mas às vezes conseguimos atingir as massas, e, por isso mesmo, continuarmos sempre, até não restar mais dedos consciência ou que o valha para escrever.
Fico muito grato que tenha gostado do trabalho.
Um forte abraço